quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Unhas cor de vinho, o olhar distrai-se em miragens turquesa. 2 horas sem falar.
A professora declara as palavras num inglês perfeito, provavelmente por ser inglesa.
Deve ser isso, não sei, aqui a realidade está um pouco estática.
Rodo a tampa da caneta com pormenor. Ouço um pequeno chio, parece um ratinho suicida, não sei. Não sei nada mesmo. Vou modelar o que vejo. Olha! Ela está de laranja hoje, cabelo ananás, super colorida desportiva. Reparo nas carcaças do pequeno-almoço, iogurte, leite, bolachas.
A professora fala como se estivéssemos mesmo interessados nisto. Talvez ela esteja. Não sei.
Ao meu lado mexe-se no telemóvel, aquele som quase inaudível das teclas incomoda-me. Tenho fome. Estou viciado no vazio púrpura iogurte. Ena, ela tem um anel enorme prateado. É a menina turquesa, gola, totó. Falta uma hora. Não sei de que merd*a é que se fala nesta aula. A mímica da cota cansa. À minha frente o verdinho no meio do preto. Acho que ela é só cabelo. Desponta claridade no início. Segundo suspiro ao meu lado, estamos presos. São previsíveis as cenas que se desenrolam. Há espaço para a imaginação, mas qualquer concretização sai mutilada.

Animal

Como comida de cão, são outros animais, não sabes?
Escapados e temperados
Latas putrefactas de animal, a fábrica da náusea explicativa ali tão perto
Músculos precisos debilitados
Juntinhos triturados abertos
Sangue de estimação
Sangue de estimação
Animal
Ciclo confuso, procedimento automático
Como máquinas, como comida de cão
Castigados na súbita ignorância, ossos crocantes, CHOMP
Tu a comer humanos, sintaxe omnívora
Tudo
Diferença não saberás, absorve as especiarias e cala-te
Carne rasgada, lambendo cartilagem, SCHLÉP
Suicidares-te no sabor, MIAM
Somos
Carne picada e regurgitada
Sangue de estimação
Sangue de estimação
Animal

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Não Mais Do Que Tudo Isto

Quero pertencer à colher, pequena colher que envolve e estrangula com padrões o leite com cereais variados há tantos, azuis, reunidos, amarelos, ondulados, crispy, bolinhas, verdes, quadradinhos, rubis, almofadados, pequeninos, deslizantes, esquisitos, secos, açucarados, falsos, cor-de-rosa, inteiros, submissos, surpreendentes, desmanchados, picantes, irritadiços, brilhantes, fluffy, barulhentos, soltos, perdidos, flutuantes, superficiais, atmosféricos, convencidos, violeta, mergulhadores, leves, explosivos, paranóicos, adoráveis, pensativos, sozinhos, conscientes, resignados, apetecíveis, impulsivos, artificiais, preciosos, ansiosos, sim, tantos, as taças também são bonitas, a minha é de plástico acho, gostava que fosse mais sensível, porcelâmica, envolvem-se todos num romance sem capas pretensas, é amor real (claro, desse tão usual em misturas habituais), são eles com ele e ela nela, mas isso não interessa para nada.
É indiferenciável.

Guitarra Pop

Desmistificada
Nas entrelinhas
Chove
Sim
Claro
Sol, pois
Óbvio
Cicatrizes de carica
Pop, pop
Guitarra
Marquinhas
Desde o ritual que me observo com mais força
É a agonia
Miau
Um bebé
Miau, miau
Pop, pop
Guitarra

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fábula Sonho

A tua mão envolve formas, identidades
Absorve isto e tudo mais, liberta
Manchas, falsificação na tinta
Moderna arte, descalçar-se no cinema, liberta
Mundo claustrofóbiconvidativo
Um brinde ao meteoro
Com sabor a morango
Pepitas reconciliadoras simulando a negação
Forte o cheiro da negrura deliberada
Penteada de forma irregular para não ver a cicatriz
Hoje as flores não abrem
Mas espera-se pelas sereias do espírito, acariciadas
Sonolentas nos círculos demenciais
Tu e nós e elas e todos
Orvalho aquece jardins frios
Estátuas muitas escondem as flechas
Mexem-se uma vez por lua
Sentem a pedra a descongelar
O sumo da fábula protegida
É este, aqui, o sonho
Fábula sonho
Pisca, reaparece, sou
O que há a dizer, inventa
Se há a dizer, inventa

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Galeria Secreta

Submundo fantástico, são árvores de cristal
Que luzem, histéricas na distância
Silêncio despido, engole lágrimas decepadas no reflexo
Perfume etéreo
E o telefone toca
Toca e recorda
Relembra e toca
"A infidelidade pode ser divertida
Quando se joga a dois, pode"
Por Deus, deve
Cores de plástico, a paixão está em desuso
Uso da cara como mostruário
Desfigurado, um monstro
Galeria enche-se
Martinis no emolduramento
Deslumbrante de smoking branco e laço
E o telefone toca
Retribuição de um sinal interrompido
As mentiras descobrem-se se quisermos
Quando a infidelidade é divertida
E dá para moldar
Gelatina expansiva
Como Deus ordena
Como Deus deve

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Alegadamente

Atordoado de rompante
Cabeça submergida em tristes nuvens transfiguradas
Esponjas sedentas por mais e mais
A claridade corta o ar, respectivas gamas elevam-se
Dogma confidencial, deixo-te adivinhar as inseguranças
Little sister, atiro o substantivo, sister
Secretismo intercruzado, não digas a ninguém, é mútuo
Quantificar a diversidade doentia
Um plano aproximado: Estás na mesma masmorra
De visões
Gárgulas ácidas claustrofóbicas afugentam
Expressões de pedra paradas, adoro-te quieta
Algures no tempo para mim
Acessível e proibida, angustiantes faíscas
Inadaptado nos critérios ideais
Química abafada nos meandros da lógica

Arriscar a divinização das hormonas que controlam
Elas
Controlam
Os teus tiques e jeitos
Feitios indecoráveis arrasadores
Um susto celebrado: palpitações
Diorama aos portões, tu sister

Sacudida ferrugem, segunda tentativa
És isso, um diorama que estabeleci
Não criei
Apenas escolhi o cenário
Conjugo-te no pretérito mais que perfeito
Mais que algo, mais que tudo
Perfeição é só uma palavra
Não existe se não estiver escrita
Suscitado na metodologia da inspiração
Impulsos divinais frenéticos
Vou sentir o doce hálito que escorrega, invisível
Filha de lábios e trocadilhos
Quero sempre massacrá-la
Boca, foder a tua aura, boca
Intensificação culpada livre, exagero
Há um método para a loucura

Arriscar
A divinização das hormonas que controlam
Elas
Controlam
Os teus tiques e jeitos
Feitios inegáveis, arrasadores
Um susto infiltrado: palpitações
Diorama aos portões, tu sister

No flashback que permanece depois da câmara se desfocar
Nas tuas palmas desfiguradas em mil pontinhos absurdos
Por entrevistas nupciais ajoelhadas
Girando
No desfecho do infinito
Melancolicamente

Amo-te
Alegadamente

Cirurgia

Cirurgião actua num instante palpitado
Torna-se cansativo desmantelar uma bomba com facas
Não pares, continua
O suor ferve, frio e ferrugento
Artérias mexem-se em espirais
O sangue enganado, criou uma consciência
"Direcções são tão óbvias, vivamos em espiral"
DeScEnDeNtE
Mistura célebre rebelde
Não caberá nos braços
Vai explodir
Cirurgião! Não interfiras
Por pontos saem, belos poros
Mutilação invertida
Chapisca agora o sangue
Chapisca
Na tua cara, cirurgião
Uma impressão
Nos teus braços, doutor
Chapisca
3,2,1

BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM!

O desejo espiral matou-se na sua glória

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Neblina

Tardia uma inquietação
Nervosa
E os astros falam a pique derretendo
Escavado o precipício primaveril da febre
Complicações de uma Sara genérica
Catástrofe de uma actuação
Morrer com o sério, morrer pela cruz de peluche
Queria prometer os vendavais convencidos
Dolorosas pegadas de cabedal
A carne a entrar nas pedras fracas
Sumptuosa tiara recolhida nos destroços
Um erro que assobio - o medo
Torna-se grande no calor do eco
Grotesca colecção de incoragem
Prateada nas mãos longas do tempo escutando
A parede rasga-se
O ouvido da antes consciência sobe tremendo
História narrada do fim ao princípio
Falo-me de uma vez
Em que o dia parou, súbito e àspero
E 6
Assim 6 criaturas piscaram as órbitas numa onda criadora
Acordo
Este sol é intermitente

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Temporária

Meia escuridão
Os princípios mudos da inversão
Esta madeira range aos soluços, é primitiva
Guiado pela cerveja suja em pálpebras - o resto
Crónicas do desmoronamento
As mulheres têm os pés a sangrar de lua
Outras lutam pelo intuito arrogante
Celebrações captadas de silhuetas de gelo inteligente
A voz é dispersa sem cara
Gotas de chuva ascendentes
Um parágrafo no tempo
Visitada aquela Morte sorridente sem dentes
Emergida de um buraco de diamantes ao longe luzindo
Uma morgue temporária
Soprava a cascata dos suspiros ideais
Acariciava cinzas juntando a delirante permissividade
Consultores do sofrimento
Esgoto palavras em noivados improváveis
Clarifico a invocação serena de uma paisagem moribunda
Mulheres e todas e algumas multiplicam-se
Na batalha
Loucura invade ossos paranóicos
Felicidade simulada num contido desabafo
A bebé era gira
Caminhava em recordações acidentais
De quadrados diagonais mal colocados pintados
De branco tímido
Desenhou
Inventou... o cor de laranja
Inventou... a morgue temporária
A quebra
O parágrafo