terça-feira, 22 de abril de 2008

Versas

-Olha, casas comigo?

-Caso.

-Que bom.

-É...

-Vamos comprar aquela casa perto do lago que vimos ontem.

-Certo.

-Gostaste, não gostaste?

-Sim, achei-a acolhedora...

-Óptimo. Ah, vamos ter dois filhos. Uma rapariga e um rapaz.

-Como se vão chamar?

-Não quero nada muito acidental, pensa em nomes com classe..

-Certo. Hum, bem, definitivamente Bernardo.

-Concordo. E para a menina, Mariana.

-Mariana?

-Sim. Simples e bonito.

-Certo. E férias?

-Miami. Japão. Brasil.

-Muito bem. Quente. Místico. Quente.

-Que filme, logo? Armaggedon ou Pearl Harbor?

-Não são parecidos?

-Ok, fica o Titanic.

-Parece-me bem.

-Arroz ou massa?

-Massa.

-Fruta ou gelado?

-Os dois.

-Anal?

-Oral.

-Está a ficar frio...

-Sim, vi no jornal que as temperaturas vão baixar.

-Provavelmente.

-Mas ainda se está bem aqui fora. Repara como o sol brilha. É lindíssimo. Parece que está a explodir continuamente no céu.

-Cala-te. Estou farto de te ouvir.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Desenhos e o Mundo

Relva psicadélica em colagens psicotrópicas
Homens vestidos de peluche
São vacas e etcetera
Revoluções infantis nos olhos de uma criança
Cor de rosa é açúcar
Pó para os inexperientes nestas artes
O imaginário do oriente a latejar
A origem do jogo bombástico
A vida não é vida
Humanos e desumanos
De olhos fechados
Paragem no tempo no momento mais oportuno
Tomada de irresponsabilidade quando a idade aperta
Ilusão de uma freedom para não rimar
Somos grandes!
Somos vitoriosos!
Somos pequenos!
Somos crianças!
A arte arde mal feita
Somos desenhos

O Medo Animado

Verde é o mundo medo
Nas redondezas
Mais escuro em profundidade
Estável
Caos criado
Ele sabe, apesar da fachada
Ele sabe como respeitar uma flor
Ganhou o prémio e a honra
As moedas mais fortes
Os sopros menores
Já nem havia polícia
Nesse mundo medo animado
Mas era tarde
Assassinaram, assassinaram
O bode Jeremias

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A um Deus Mais Interessado Em Beatificar Manteiga Do Que Em Tocar Flauta Transversal

*






Diz-me Deus
Deus do Leite, Deus das Coisas
Deus do Impuro, Deus do Perdão

Os sinónimos que ficam
Entalados na tua garganta
Celestial








*

terça-feira, 15 de abril de 2008

Angústias de Uma Cenoura e os Cérebros de Animais Espezinhados

Dentro do homem que nunca ri
A mulher que raramente mente
Solto contacto entre ódios
Pontapés efeminados e machos
É uma digestão dos membros em soluços internos
Ácido reabilitante castigador
Luta! Acorda! É a luta!
Insensibilidade vs Êxtase
Perguntas contra respostas
Ciclopes de peruca a beber limonada
Na antecipação
Bilhetes à venda para o espectáculo
Uma amostra e a corrida dispara dispersa
Demasiado, tudo, algo
Loiras são mais bonitas, dizem
Realidade vs Angústia
Uma cenoura
Uma cenoura
Não acho que sinta o impacto
Dos cérebros de animais espezinhados
Uma cenoura
Uma cenoura
Não acho que sinta a angústia

terça-feira, 8 de abril de 2008

Marca

Soluçada, mini-tatuagem de restos
Embutida, tabuleta triangular
Há um sinal na parte de trás da tua cabeça
Uma marca a recitar:

"Ignora-me, se me vires.
Se um dia me vires, ignora."

Rumores

O implacável magoa
A vitória cansa
O fogo chateia

É a pediatria do correcto
Uma extinção de respostas subtis
Queimadas ao não fixar o arquivo cortante

Indefinições
Somos manifestos pós-vida
Com o impossível a cravejar nas costas uma faca adormecida
Um beijo de almofadinhas

Estruturado no intervalo crescente do sono que nos separa