sábado, 21 de junho de 2008

Noites Inventadas

Invento noites para afugentar os perigos da normalidade. Era dia de sair.
Aliado pelo sofá que afundava de forma rara, conquisto a casa, tornando-me definitivamente o príncipe da ocasião. Todo o ambiente em redor parecia simplesmente uma mini-suite em decadência. A luz central pouco forte evidenciava as personalidades da companhia.
Éramos todos parvos. Comida com fotografias, sumos estranhos, fingimento aos impulsos repetidos.
Vento agora e noite também. Um bar começava a abrir o resto do tempo juntos mas não havia conversa. Tudo a dizer já tinha sido dito. E era só treta superficial.
Um homem barbudo agarra-me com entusiasmo, pergunta-me o nome. Ponto alto de reconhecimento numa noite, que mesmo inventada, se revelava redundante.
Próximo bar. Neste a música simula ondas de miséria. Com tanto fingimento, finjo ainda mais e crio uma pretensa relação comigo mesmo. Afasto-me. Sou meu namorado. Mas continuo a não conseguir ver quando preciso do que preciso. Mantenho-me complexo e duvidoso.
Passa uma rapariga atraente. Isto das miúdas é simples: Há algumas que são atraentes e existem algumas que não são. E também há as que são mais ou menos. E dentro de cada categorização, inúmeros factores e nuances combatem. Muito simples, portanto. Tudo tão objectivo quanto a palavra indeciso o permite.
O sítio parecia um quadro farto, desgastado, com uma voz incorporada constantemente a martelar-me: Não te dediques à decadência, não a incentives.
Antes a rua fria salpicada com toques contraditórios de luz e alma, agora cadeiras finas em mesas rústicas.
A entrada de um navio majestoso. Com escadas de cada lado. Apetecíveis.
E ali mesmo, no meio de todo o pseudo-luxo, permanecíamos.
Não há pessoas interessantes.
Não há ninguém capaz de surpreender.
Só mestres de imtação do que já sabíamos.
A música deslizava provocante pelos nossos cérebros cheios.
Não somos mais do que isto.

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