terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Kiibo e Midorina

Na televisão as plantas falam e são giras e são árvores e são bonitas e experimentais.

Indefine-se o sexo, é irrelevante para que lado se vira o Outono nestas prováveis situações de delírio.

Duas perfeições numa só: o sonho da Natureza a abrir-se em esplendor.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Alegriador

Hoje choveu pouco no magnânime reflexo da outra janela. Pouco se passa neste meu universo tornado mundo. Perdi tudo o que tinha em simples meses irresponsáveis, mas não era altura de me martirizar com o irreversível, ate porque já passou um ano desde que perdi tudo em meses. Mesmo assim, ainda o sentimento despertava e voltava a latejar. Queria a sua voz a atravessar-me, as suas ideias por completar e fotografias por definir a definir-me cada vez mais. Tivemos um quadro não finalizado por medo e culpa. Medo de me atirar e saborear as extremidades confortáveis do precipício; culpa de me estar a sentir bem demais e não saber lidar com isso. Mais aconteceu. Mais acontece. Novo ano, novas caras, simulações ilusórias do esquecimento. Doses espontâneas e premeditadas de reconstrução corporal. Sim, sou outro. Talvez superior. Devastado e aos pedaços. Acorrentado a pedaços de momentos vivos neste interior confuso. Não é saudade. É vontade de partir o tempo em dois e resgatar o meu eu anterior, lançar-me agora por esse portal delicioso que finalmente sei preencher. São tudo desencontros e insanidade. É isto a vida. Quando tudo está ideal, morre antes de se tornar perfeito. Complicado encontrar drogas celestiais que salvem um pouco de mim. Refugio-me na imaginação que crio. Penso numa iguana laranja tridimensional mas não me serve de nada. Isto não é nada, eu não sou nada, não posso querer ser nada.
Pretensão mata.
"Que estás a fazer?" - perguntou ela, interessada nos fragmentos da minha compulsiva estrutura pessoal.
E tudo começa de novo.

É Aterrador O Que Passa Por Comunicação

Como me disseram, fiz uma estrutura narrativa coerente assemelhando-se a um livro. Começa com um homem metade animal metade homem numa aula onde glorifica uma clara entidade com três quartos de cérebro a pular pelas órbitas. Foca-se a imagem e vê-se o homem a olhar para fora, desejando que o sol não se deite tão cedo. Vê centauros a correr desastradamente pelo céu.
Muitas pessoas o rodeiam num meio de sombra limonesco estando todos calados a ouvir a misteriosa entidade. Este jovem, meio homem, meio animal, vai pensando, ele pensa muito e depara-se com conflitos antigos. Acha curioso o profissionalismo com que as pessoas modelam a sua existência.
Conflitos anteriores tornam-se posteriores. Deseja o que sabe que não pode ter e talvez precisamente por isso deseja-o cada vez mais. Lindo apreciador de ensaios e poesia. Concentra-se agora na adoração do metal. 16:52. Pôr-do-sol. Imagina o que diria à hipotética amada descoberta na aplicação prática. A teoria parece deliciosa. E com muitas. Não só com a que não pode ter. Mas ela é a pior de todas, é a perigosíssima. Eva de cristal. A mais proibida. É ficção gostar dela neste momento, considerando que há uns minutos pensava em outras e nunca na definitiva. Idealizava um suicídio romântico com ela, com essa que não pode gostar dele. Ou será que pode? Foi perguntar-lhe. Não foi nada. Não admiraria as suas particularidades. Ou será que sim? Admirava-a, mas não estava sozinha. Implodiria com ela numa explosão insonora. Continuaria o futuro condicional with her. Aquele metal! Sempre aquele metal com voz misturada, nada simulada, imperceptível nos escombros. Os seus segredos como arte. Compreensão por telepatia. Imaginava a sua pele encostada ao seu corpo impossível. Mas nada. Ele era realista, e fabricava-a à distância. Via-a como uma princesa da moda, irradiando luz perfeita. Uma estrela com brilho interior. Declarava-se a páginas sem cor. E mesmo assim, a timidez impedia-o de concretizar plenamente os seus sonhos imaginários. Mas nada. Nos seus melhores sonhos. Nestes melhores sonhos era um firme especialista a dramatizar. Sem consequências recheadas de real impacto.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

S e m r i t m o

uma mulher sem olhos numa parede sem sonhos e paisagens rectangulares em bicos de pés com sobrancelhas pintadas e mãos de ferro em voz infantil sobre ferro sensual na sepultura eléctrica que não é esta mas a outra que recusa a morte e parece-se a ela e esta elástica de contornos efémeros parece que sabe naufragar num esconderijo hipnótico mas a outra merece também preocupação de mim sim é mais sombra que brilhos e desenvolvida e questiona o fim e espera por mim não como a outra feliz estrangulada em suas pegadas mais indefinidas que certas não como a outra suspensa em infinidade mitológica mito lógico ao consentir possibilidades magenta

domingo, 14 de dezembro de 2008

Porque me apeteceu...

(








Chupei o ar à volta da crucificação voluntária








)

Saber Ilusório

A ligação espiritual de falsos é falsa como falsamente impliquei. Os que iludem o saber com as suas não-enigmáricas presenças menciono. Os fáceis de descodificar em contactos imediatos. Os que viajam em caras dramáticas sem intensidade. Os desinteressados pela naturalidade. Os que fixam a parede. São esses. Os mesmos. Aqueles. Não acredito absolutamente em vidas intra-terrestres.

A Sombra De Uma Sombra

A fantasia monocórdica parece uma
Corda, parece uma espada grave com curvas agarradas
Num frio agarrado, numa
Musa nórdica
Com mãos de madrugada espontânea
E sorriso de boneca quebrada

Cenas do nada acontecem
Entrelaçadas em mel e amor
Juramento influente de viúvas
Lindas em ceptro e jóias

Virgens frígidas que passeiam pela floresta de mãos afastadas
Simplicidade tornada mulher e grande
Ínfima infinidade e mulher na intimidade
Intimidante

(....................................................................)

As sombras parecem tudo e não magoam
E parecem sombras que assombram
Mas as sombras não têm sombra
Ou será que têm?

Escutem a beleza do genocídio ao desvirtuar o natural! Escutem!
Escolham o genocídio da beleza a naturalizar o desvirtual! Escolham!
Isso é bom mas podemos fazer outro, fazer outro...
O mundo anda às voltas mimadas

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Revólver

Antecipo a magia em passos leves, sou mesmo sonhador. Passei oito horas a sentir os seus lábios, a textura era quase real. Escondi-me neste dia de sol no meu quarto diminuto e canto assim para dentro e sinto-me vivo no meu planetinha. Já pessoas me chamaram sensível. Preferia que me chamassem disléxico. O ar revolve nas pálpebras quando me entusiasmo, sim, desculpem mas às vezes excedo-me. E ainda nem comi. Viajo em nuvens neste momento instantâneo. Não percebo a consciência, não sinto saudades de nada que não tenha feito mas revolto-me na mesma. Quando for lá para fora vou exibir-me. Esmagar os crânios de quem mente. Sou sensível, como já me disseram. Acho que não me percebem. Nem querem. Porquê optar pelo prazer de uma mulher quando tenho revistas de moda? Gosto delas assim. Das mulheres. Estáticas e bem vestidas. Caras grandes. Claro que isto não pode ser considerado um acto estranho. Seria absurdo ver isso assim, um ultraje! Também faço outras coisas. Digo "amo-te" aos pássaros. E eles retribuem. Incendeio florestas para me aquecer. Compro sentimentos em pó. Sempre que quero algum é só escolher um saquinho. Todos apertadinhos e perto do meu revólver. Ele não me julga. É bonito como uma das modelos pelas quais me apaixono. Beijo-o em segredo. Provo a morte e dispenso-a. Sabe a ferrugem.

Malícia da Isolação: Os Princípios Da Incerteza

É apaixonante quando ela não vem e não se move estática perto da minha pele gasta. Penso nela na ausência, na mudança que inflinge no esqueleto perturbador. Era tanto e tudo, tiro ilações daquela face iluminada, perigosamente instalada num império frio. És amarela, és ruiva, és multi-color. Permitia-me invadir-te rasgando-te a inocência. Os olhos, arrancava-os em espiral mastigando-os. Maligno! Ter-te dentro de mim. És dura e tens asas. Auréola infernal. Absurda total. Chego à hora marcada ao local onde não combinamos. Decido por ti os artifícios que me fazem mexer, mexo-me em alturas, respiro dentro de nuvens sintagmáticas, cuspo água com dentes absorvidos. És a chuva que se infilitra nos lugares menos próprios. És Lua sorrideliciosa impressa em carácter surreal. Serei o teu planeta pequeno, hipnotizante como um berlinde exagerado. Um astro impulsivo. O teu Sol pensativo. Escrevo a tua biografia em cada palavra que te sussurro. Serei o mais elevado autor da tua existência, manchado pelo medo que não existe e os gritos que não consegues calar. Comparada com o teu fogo, a Inquisição não é nada. O meu desejo em ti reflecte-se, torna-se sofisticado no Inferno sistemático que escolhemos como privado. Evoluímos nos braços um do outro, tornamo-nos grandes nas chamas simplistas.
Tinta invisível na mão quando não estás, quando as mãos percorrem sentimentos longe distancio-me da vida na imaginação. Supremacia da incerteza, contacto o corpo longínquo que me afecta os sentidos desde a sepultura até à morte.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Tentativa de Suicídio

Olho duas vezes à minha volta. O absolutismo do meu reino perturba-me em doses habituais.
Tudo me enerva, tudo me suscita, tudo me causa pasmo e tristeza. Recolho um fio de cabelo quase branco desconhecido e hipnotizo-me durante 15 segundos. Mini-felicidade.
Tenho ciúmes de mim e dos outros, sou bom de mais, sou horrível de mais, o que me diferencia é a indiferença. Há planos bem definidos para mim mas apetece-me anular o destino.
Circulo nos contornos do círculo sem encontrar o centro. Para quê melhorar-me? Optimizar corpo e alma para acabar num caixote? Deixo-me andar. Não levo nada a sério, crio dramas despropositados, admiro as fendas da realidade por onde quer que passe.
Sinto-me só quando estou sozinho. Não incompleto, apenas miserável. Há curiosidade em ver pessoas, tocar em pessoas, falar com elas, mas o impacto reduz-se no prolongamento.
Ser invisível. Observar o mundo descalço. Um fugitivo do Presente.
Vestimo-nos, comemos, bebemos, rimo-nos, falamos, fornicamos, zangamo-nos, amamo-nos.
Sem compreender porquê. E não interessa porquê. São só repetições.
Afasto as pernas dos joelhos. Separo a carne do espírito.
Tento-me matar.

sábado, 22 de novembro de 2008

Questões Demoníacas

Esteticamente não há menções exemplificadas de rastos cruéis. Mais bem gatinham por vidro raso as várias perturbações que caracterizam a doença. Sem contar com cópias ou fragmentos que batem em forma existencial, situo-me no lugar mais elevado do hospício. Uma réplica do Futuro. Desperdiço os braços em brisa calorífica. Desenho na realidade um chão fluente que engole mais que chamas, bolas de neve. Cartas para quem presencia a atmosfera dura enquadrante. Se elas estão, os precipícios desviam o olhar, torno-me tímido animal sem pernas que me segurem. Escondi as inquietações múltiplas no joelho enigmático. Torno-me perfume de ar, com o tempo. A necessidade tornou-se uma obra do capricho, o silêncio já goza com o túmulo e a sua boca encerrada. Nervoso antes da decapitação. O calafrio da repulsa aperta-me o estômago em instâncias. Apaixonei-me pela Medusa. Não olho porque me transforma em pedra, não olho porque tem olhos, não me olha porque não precisa. Leio o que tem, um corpo morno, adormecido em enchimentos psicotrópicos juvenis. Um copo de água adulterado. Calada fica tão calada. E as duras leis da simetria obrigam-na a um êxodo facial.
Egoísta na palidez incutida. Dá-me um reino egoísta. Apetrechado na polidez receptiva.
São estas as nossas especiais combustões siamesas.

sábado, 15 de novembro de 2008

Momento Encriptado

(a dois minutos de ser feliz)

Os mortos são estes e outros que me vêem e se aproximam
Não só mais, porque também me afugenta o carvão
E o corvo na estrada
E o fogo na estrada
E o animal da frase intelectual que se arma em sagrado
Tanta coisa para me chamarem
Mancha-prazeres, enfim, do mundo

Sou conhecido em todos os momentos e arredores
Invento linhas de droga não funcionais
Revivalismo de estigmas feministas

Não é importante esta afirmação.
Nem esta.
Na verdade, tudo o que escrevo é irrelevante
Ou ambíguo
Esta frase, por exemplo, é inteiramente falsa.
Num país dado a palavras isto faria mais sentido
M-A-I-S
MUITO MAIS
MUITÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍSSIMO MAIS
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

No ponto alto da sua vida, a formiga espreita para os dois lados
Tip, Tip, Tip
E rapidamente é pisada

Psst... queres saber um segredo?
Sofro de bulimia
Ou então gosto de alquimia
Confundo sempre estas coisas a que chamam de palavras
Raio de palavras
Amaldiçoo o pensamento que só conhece um veículo!
Previsibilidade multi-funcional
Como um espremedor, que falta faz um espremedor!
Com tantos limões à volta

Mesmo assim falo com quem está a falar comigo
Não falo com quem não fala comigo ou não pode
Ou está longe
Ou não quer
Ou não me curte
...

Uau! Sou tão pita!
Espero ansiosamente chegar aos 16 anos
Na forma lúcida de mulher.
Ser fantástica e superficial
Feia e pré-nupcial
Quando o período e essas coisas se estruturarem na cabeça empanturrada
Quando ao me sentir bem sentir que não valho nada
Quando...

As nuvens não fizerem sentido na irónica apropriação
De uma lógica desmedida

Debito excertos do diálogo da minha nuca e da urtiga que me motiva
Há insectos na minha alma antes cheia
Gatos mortos com minhocas guturais na espinha
Desenvolvo-me na cave, com ratos a fazer de família fictícia
E homens a servir de isqueiros ultrapassados

A palavra que inspirava morte nas pessoas foi
Um mandamento encriptado, um momento
Um movimento
No dia mais tarde de hoje
Um pássaro procurou uma gaiola

Serei um servo do Sol
Se a Lua não me quiser de volta
O poder de decisões é abstracto
Quando o universo real é um mapa
Com tendência a não ter linhas

A caixa de Pandora abriu-se com teias de aranha lá dentro
E aranhas lá dentro
E lá dentro aranhas
E aranhas não falam
E Pandora era uma princesa que por tão feia ser
Se fechou numa caixa para ninguém a ver

Numa cama sentado, a almofada rebelde salta
Para o suicídio da manhã
Todos sabem que o orgasmo do mel sabe melhor
Na garganta afiada
Renovada com violência crepuscular

!!!!!!!Pumpkin Disconnected!!!!!!!

A
Natureza
Explode

(1:59 min.)

domingo, 9 de novembro de 2008

Perfeita Ironia

- Sabes imitar uma vaca?

- Claro que sei.

- Então imita-ma.

- "Olá, sou uma vaca".

- És parvo... olha, vês aquela série da gaja que vê mortos?

- Sim. É a série da Melinda.

- Ainda bem que a vês, eu também a vejo regularmente.

- Mas eu não a vejo regularmente.

- Não?

- Só às vezes.

- Só às vezes é que a vês regularmente?

- Não. Só as vezes é que a vejo às vezes. Nas outras vezes nem chego a ver.

- Devias ver regularmente. É muito boa.

- Bah. Prefiro cortar-me.

- A sério?

- Claro. Tenho curiosidade em ver se as veias são mesmo azuis...

- Lol.

- Desculpa?

- Lol. É uma expressão que os jovens usam.

- Mas tu não és jovem.

- Desculpa.

- E afinal o que quer isso dizer?

- És um chato. Adoras subverter-me.

- E só te conheço há 12 minutos...

- Exacto. Nem consigo conceber como seria se te conhecesse há mais tempo.

- Mais tempo quanto?

- Sei lá, uma semana.

- Uma semana é muito tempo. Mas devo dizer-te, não és a primeira rapariga que conheço. Aliás, já conheci raparigas antes de ti.

- Ai sim?

- Claro, mas desde há 12 minutos atrás tu és a primeira e sinceramente acho que eu e tu...

- Cheiras a Trinaranjus.

- Pois, não sei, deve ser. Mas como estava a dizer...

- Olha, já beijaste alguém?

- Hum, uma vez, há muito muito tempo.

- E foi um beijo apaixonado?

- Não sei, já não me lembro.

- Como não te podes lembrar?

- Estava distraído ... Não quero falar disso.

- Então força, não fales disso.

- Falo do quê?

- Tu é que sabes, foste tu que meteste conversa comigo. Afinal o que é que queres?

- Estava justamente a chegar a essa parte. É assim: Julgo que gosto de ti.

- Ai é? Mas olha que só me conheces há 12 minutos.

- Que exagero! Já te devo conhecer há pelo menos 14!

- Isso é pouco tempo. Quero que me leves a sair.

- Fora de questão. Não posso ir a nenhum sítio.

- Desculpa?

- Tenho um problema. Apaixono-me demasiado depressa.

- Estou a ver. Lol.

- Não é algo para rir, tenho realmente um problema. Não consigo parar de me apaixonar pelas pessoas ... e é possível que me apaixonasse por alguém que não tu nesta mesma noite...

- Bem, pelo menos não és um coelho.

- Mas gosto de cenouras na mesma, percebes qual é o problema?

- Lolada. Acho que te fazia bem um pouco de instrução. Tu não és normal, tu não podes ser normal, isto não pode ser normal...

- Mas é, rapariga. É mesmo. Aqueles pormenores fofos não me escapam. Alguma palavra menos discreta que entre em mim, uma forma de vestir mais provocante, um sorriso sincero ... conseguem destruir-me completamente. Mas ainda tenho outro problema.

- Ainda bem que te conheci. És mesmo o Sr Perfeição.

- Deixa-me falar. O que acontece é que não me consigo apaixonar na íntegra por uma pessoa só. Só por bocados de quem me rodeia...

- Hello? A realidade telefonou, quer a sua estupidez de volta! É óbvio que não te consegues apaixonar completamente por uma pessoa só. Ninguém consegue. Apenas estamos demasiado habituados a dizer que sim. Há umas linhas atrás chamei-te Sr Perfeição em clara ironia, e repara, tinha mesmo que ser irónica.
A perfeição é um mito igual à paixão contínua.

- Uau ... és tão complexa. Mesmo. Maravilhosamente abstracta. Acho até que ...

- Estás apaixonado por mim?

- Sim!

- É só impressão tua. Mas vamos fingir que sim. Só pelo divertimento.

Descrição Inexistente

Puta de gaja boa, juro que adoro aquela cara. É habitual em hipermercados, deve ser pobre, é certo. Tão delicada musa e subterrânea e pré-histórica.
Cabeça grande, bem esculpida, parece a refugiada ideal de uma ilha secreta. Como sensual que parece que é que sinto que mostra. Está abrigada num casaco bege transparente não, tão comum nesta época, mas extra-especial na sua figura.
Esqueço-me de mencionar as mãos, foge-me a beleza capaz de membros inúteis. Na certa seriam de cores grandiosas e capazes de derrubar rochas solitárias.
Totalmente desproporcional, totalmente deliciosa. Inversamente proporcional à desproporção.
Encontro encanto neste dias pré-natalícios, vejo que me posso surpreender além de palavras minhas em sítios previamente criados em mundos superficialmente familiares ou até planeados.
É normal.
É usual ver anjos nesta altura. Não me sinto vazio, apenas livre de mais e ao mesmo tempo claustrofóbico.
Com vontade de me agarrar a algo, com vontade de querer, ao menos de viver.
Quero viver numa rua almofadada.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Teoria Momentânea

O meu amor por orgias é proporcional ao meu ódio por gengivas.
Ah ah. Agora vou falar de bruxas, é preciso ser parvo para falar de bruxas.
Está tudo fodido na minha vida.
Sou lento, sou tudo, traduzo tudo o que sou, sujo e aos farrapos.
Eu não tenho as mesmas capacidades, eu não sou rico como vocês.
Quê? Ai Jesus, que lindo! Tenho as crónicas de momentos sem inspiração no meu bolso interior!
Sou rico em nojice. Sou um porco tão porco.
O espeto da minha imaginação é uma brasa cheia de overdubs.
3 guitarras e um baixo por trás com vontade de sexo anal.
Dizem que há um forno dentro de um forno dentro de um forno com fornos pequeninos a espreitar para dentro do forno.
Se te partir os dentes, o teu sorriso deixa de ser fofo.
Abençoavas-me? Abençoavas-me se te destruisse o confessionário?
Vou violar amigas tuas que não saibam executar riffs perfeitos.
Deixo uma carta de suicídio para a Bela e o Monstro.
Diz-me quem és, não me vou mexer muito, prometo.
Dizem que sou surdo. Dizem muita coisa. Dizem muito.
MUITO. MUITO DIZEM. MUITO.
Dizem que a sepultura é quente.
É apropriado.
O meu mundo sempre foi instrumental.

sábado, 1 de novembro de 2008

Se Eu Pudesse Sentir Em Vez De Fingir

Como a própria Natureza lança o vulcão para o deserto, a namorada ameaça discussão ao teatro do amante génio, agora libertado para a criação satirizada, faca redonda no peito, abertura venenosa
intra
venosa
Ele não está aqui, derrubou a dor explícita, ele não está aqui, derrubou a dor explícita
Pré-programada a doença néon e nuvem, a faca no coração delicadamente sincronizada
abre uma vez mais os olhos em gigantismo inseguro, segurando cínicas pálpebras em puro detalhe pormenor
Porque estes...
Sãoalguns traços de génio
Na beleza cicatriz
De uma dor explícita

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Visita de Um Intruso

Capítulo Anterior

Observa o pequeno planeta que te rodeia, não achas engraçado que as pessoas que se gostam unam as mãos? Vá, não devia ser novidade para ti, certo? Chama-se gos-tar. São duas sílabas apenas. Tenho que começar a explicar-te estas coisas, esqueço-me como és inexperiente nestas experiências de afecto e afins.
Vou começar por te mostrar este sítio e outros ao mesmo tempo.
Ali ao fundo está uma rapariga que tenta compensar a falta de beleza com saltos altos. Aquela, ri-se mais alto que a própria lua. Outra é simplesmente gorda. Repara só como é curioso este planeta!
Os gajos são diferentes. Emulam deuses menores em poses convencionais. Acho que está na moda isto de ser cirurgião quando ainda mal se sabe brincar com facas.
Mas não me ligues muito, tenho o vício de odiar toda a gente sem conhecer ninguém. Ainda bem que tu és assim como és, fugindo do catalogável.
Continuando, há um tom de madeira cerrado a balançar, dá para ficar pedrado nesta atmosfera.
É enjoativo pensar numa cor só.
Há uma rapariga, contudo, que não passa invisível pelas lentes. Não sei a cor do seu cabelo, talvez amarelo-sol, daquele bem gasto. Folheia livros como se estivesse realmente interessada neles. Veste-se entre o casual e o despreocupado com toques de modernismo. Parece mesmo interessante, algum tipo de mulher evoluída com traços muito diluídos de pseudo-intelectualismo (que doença horrível). Aqui vai uma lição para ti: Se bem que ainda não percebi muito bem os teus gostos, não creio que a conseguisses fornicar. Provavelmente é lésbica, percebes? Não é para te desiludir, mas tudo o que queres, não podes ter. Aliás, nem devias poder querer.

Mas ela podia tornar-se minha amiga!

Esquece, ilusões fazem mal.

Capítulo Seguinte

Isto não é um planeta de anormais. Juro que não. Um planeta de anormais teria conseguido criar isto que disse e já não me lembro? Duvido!
Afasto o cabelo que insiste em me tapar a cara. Até ele me acha pouco atraente. Não sou inseguro mas sinto-me extremamente sozinho neste reino sem braços.
Penso em árvores com raízes feitas de sombra. Irónico pensar na Natureza, os meus ídolos estão todos mortos na velha cidade.
Agora é a fase dos conselhos. Não tens doenças pois não?
É que acho que as miudas não se apaixonam por disléxicos. Fase número dois: Tens de aprender a relaxar, isso de pensar tanto que me dizes que tens e que pensas acaba por te destruir. Tens que estar apto a sobrevoar o vácuo. Ouve música sem pensar como foi criada, aproveita filmes não sabendo que são falsos. Acredita na aparente estupidez. Finge-te de ignorante até seres um. Estiliza-te no modo satanista. És completamente superior sem o seres. Atira a preocupação a um canto. Vou falar-te deles outra vez, são felizes. Há mesmo provas concretas: eles sorriem. Porque não hás de sorrir também? Quero que tenhas o desejo de ser recordado, seria egoísta viveres só para ti. Faz algo!
Eu conheço o teu estado. Sentes a falta de algo mas não sabes o que é. E de repente sabes o que é. E de repente não é nada. E de repente morres porque pensaste demasiado.
Sentes que nada dá resultado, mas podes tentar o que fizer sentido para ti.
Deixa o ar entrar. Afinal de contas, podes não conhecer números mas sabes que tens cérebro.
És um fósforo feito no céu.

domingo, 26 de outubro de 2008

LSDangels

Sou tão plástico e caucasiano que não chego a pensar em mim como "O Maior". De facto, desejo morte à maior parte das tradições e admiro delicadamente as contradições. Queria ser como uma ilha ao contrário, pacífica ao reverso. Não me chamam anti-purista ao acaso: não acredito em nada com fervor. Filologicamente sou inadequado. A minha forma de expressão preferida são frases falsas em conteúdo. Esta reciclagem da sucata é uma clara vantagem primitiva da próxima ascensão. Mas o que precisamos realmente aqui é de mais almas a leste da periferia. Periferia com relógios a imitar cenas famosas de curtas-metragens desconhecidas.
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh..............................
Se não fechar os olhos vejo machados de água viciados em guilhotinas.
Talvez corpos cobertos de idealizações mortas.
Destinos roídos em dentadas barulhentas.
Bodies desprotegidos na beleza aureolar de um mar de ciências desorganizado.
Anjos de figura moderna, nuvens etéreas de cabedal perfurado.
Cristal por todo o lado.
Anjos em LSD.

sábado, 18 de outubro de 2008

Etapas De Uma Nascente Morta

(dominado pela rouquidão adversa)

Sou um herói da pluralidade lexical
Zero honrado com interrupções no discurso
Sim, é habitual chamarem-me por sinais de fumo
Habituo-me a estes impulsos por muito pouco lógicos que possam parecer

Querido Diário:

Apetece-me um mini-chocolate do mini-frigorífico de uma mini-suite de um grande hotel

Imagino-me num quadro de Da Vinci
Era bom estar numa prisão luxuosa
Dinâmica, com tinta fresca da altura
Deviam haver campos na altura, com telas já estabelecidas e talento
A esguichar dos poros da Natureza

Sinto-me íntimo do fantasma da genialidade

Perdi a chave do caixão observador
Vampiro administrador da zona sepulcral
O Pai Natal não valoriza leite e bolachinhas
A sua onda é mais elfofilia

Se alguém disse isso, é só para chamar à atenção
Somos todos iguais, não sabias?

Tenho curiosidade em ver aquele futuro que os sábios
Anunciam, um tipo de águia lateral a sobrevoar
O Inferno sobre a Terra

Bebo ácido para me acalmar

Não trouxe a agenda mas sempre emprego a sebenta
Posso escrever simultaneamente nos dedos da alma

(Tenho uma) Caneta viva com passos de gigante a gatinhar
(Sou) Mestre especial da arte reversível
(Sinto que) Máquinas de identificação seriam irrelevantes

Num mundo espiral
Isto vicia!

Ideias de um génio mediano
Adepto de criminalidade legal
Esta é a minha teoria da resolução
Rio-me do poder que não exerço

A cultura da minha silhueta estagna perante a finitude
Não sou digno da evolução, tragam os dinossauros de volta!

Comecei uma cerimónia produzida pelo Ego
Desprendi-me da consciência moribunda
Ascendi a latitudes unidireccionais

Sou o radical e o pró-social
O aparado e o desleixado
Um desses no lado oposto esquerdo da nuvem
Ícaro com vertigens

O rei de um reino distante chamado Longínquo

a) A métrica entrelaça-se a rimas duvidosas
Odeio estrofes, odeio apóstrofes

Tributo a Patti Mayonaise:

Gosto dela, é dela de quem eu gosto, gosto
Sim, acho que sim, tenho a certeza que sim, tem que ser que sim...
Gosto muito mesmo mais que mesmo muito
Mesmo dela gosto

Abri a porta das traseiras a um assassino em série carnavalesco
Talvez com a reconstituição do espírito isto avance...

Acima de tudo, sou um falador que escreve
Escondo-me da fealdade como uma raposa
Reparo nos acentos de átomo e arco-íris
Alimento polémicas à volta de atributos

Esquisito como amo a Bíblia e a Insanidade
(ao mesmo tempo)
Queria comer páginas e voar na lua
Assim, ter passatempos desabituais!

Sou um astronauta pouco inteligente
Espiritual e multi-desenvolvido

Odeio natureza morta
Sou mais um versículo existencialista
Boneco com pretensões de narcisista
Anarquista, ventriloquista, hipnotista, masoquista
Sou tudo e muito mais acabado em ista

E um boneco precisa de uma boneca
Equilibrada fisicamente e com saia como cenário

Sim, é isso
Uma criada à imagem e semelhança de outra e nenhuma

Divindade é a verdade na boca da mulher

Resumindo, tu

(A nota mais afinada de um grito)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Parabolizando

Um dia como outro na janela vidrava, agulhas estéticas estilizadas influenciavam-se uma à uma, mutuamente, numa ligação sentida, mais que direccional.
Giro como o sol gira como a lua como a lua gira sobre a luz.
Acho que é melhor tentar uma escrita pop, não esta, não pode ser como esta, algo mais fluente e saboroso, que escorregue pelo estômago em doses agridoces.
No Natal compram-se mais artefactos do que brinquedos, sabes como é, sou um daqueles homo-sapiens especializados, mais ambiental que perfurante. Sim, douro na paisagem.
Como aquelas pessoas que se riem sempre, mesmo quando não percebem a piada.
Yeah, criador de defuntos, eduquei-me em lágrimas tiaras.
Apaixonado por uma estrela de ópera. São as mais fashion.
Para mim, claro, porque ninguém lê isto. Sou só um girassol.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aspectos Da Inexistência

O redor estava calado e faminto. Era estranha esta chuva de analogias recicladas e também o resto que repetia sons dos animais mais ferozes. Permaneciam como usualmente as ligeirezas do quotidiano, de um lado os aspectos ensurdecedores de um Inferno morno, do outro, as gárgulas femininas ansiosas por um voo secreto numa loja de luxo. Terrores de uma vida moderna. Sentia-se complicado neste jardim de dissabores. Só se empregava à imaginação, dias fechados no quarto a resolver os indícios de coragem que vagueavam na clarabóia do ontem. Ele era o feito e o não feito. Particularmente indefinível. Esqueleto por opção. Tornara-se pouco atraente como lógica única de sedução, não queria seduzir, hoje seria uma figura inadiável. Abominava qualquer algo relacionado com o Eduardo Mãos de Tesoura. Invejava a sua sorte, seria sorte, sim, claro, ter tesouras, podia passar horas a desfigurar a cara. Agora, nada a fazer além de se atirar de sítios altos, não se magoava nem se partia, apenas aproveitava um pouco os efeitos da gravidade. Lugar de férias estava no ar, pescoços paradisíacos nos seus invisíveis orgãos internos. Sonhara com crucifixos e mediania, pensava que ser um vampiro traria vantagens ao seu processo, traria, claro que queria chapinhar em sangue alheio, sim, sim, sim. Tiques de esqueleto e nem um cão o queria. Tentou mudar o nome para Galáxia. Nem todo o mundo gostou. Chamavam-lhe pálido às horas frequentes. Costumava ser inoportuno em jantares formais, levava chápeus para esconder a falta de corpo. Era mesmo como qualquer um, mas com mente de decapitado. Com isto, tinha e voltava a ter visões de enforcamentos diários. Clamava por um génio da Matemática que o ajudasse a contar todas as vezes que se desiludiu. Lia no escuro, no seu planeta privado. Gostava da casa onde o permitiam repousar. Parede frágil em imitação de papel. Algum tipo de som psicadélico que simulasse alucinogenia.
Um amigo exterior para interiorizar todos os aspectos da inexistência.
Um chocolate intocável, lembrando as nunca-alturas do momento-sabor.
Um telhado de vidros estilhaçados de açúcar que previa o seu comportamento.
E claro, se lia algo no escuro, lia com certeza mais do que a lua. Mais do que algo que pretendia. Talvez poesia. A lua seria sua.

"Let me sing about one thing that's clear
Nobody owns
The pleasure of tones
That belongs to a guy with no ear"

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Stand-By

Alzira, educada à maneira da ciência juntou-se à mesa. Era requintado o prazer de se anunciar submissa, que delícia, ela sabia, ela era.
Respirava tosse no prato, culpava as salmonelas por lhe terem atrofiado a adolescência.
Dizia-se uma vítima da inteligência. E o choque cuiltural mais forte que absorvia com frequência eram os olhos feios que apareciam mortos na sua cama.
Os bocejos eram perigosos, e ela, professora, Alzira professora, dava valor às lições de insónia que tanto trabalho lhe tinham dado a decorar.
Figura esqueletal, trapo verde, decorava-se também para a noite fugaz, hoje seria uma estrela rápida. Dava-se ela com músicos, aligeirava-se com a rouquidão alienígena abismal que invadia os seus vértices. Ajudada por um aparelho para segurar gengivas e com recepção do tacto incluída tornara-se simplesmente simples e intocável. Não eram olhos feios os seus, tinham de alguma forma vida, os seus olhos. Estavam no meio, a espreitar.
A sua fantasia era a almofada. Actor-fetiche: Vincent Price.
Juntou os dois e afundou-se num suicídio particular.

sábado, 4 de outubro de 2008

O

Mário era viciado nas artes da sedução. Dizia-se que andava de calções para fascinar as jovens. Mas alegrava normalmente mais os esquilos do que exactamente o alvo.
"Tens mais sabor do que um guaraná com piri-piri!"
Dizia coisas assim. Misturas de falta de nexo com atiradismo inadequado.
Espantoso era que resultava, e de uma coisa podia estar certo: os esquilos adoravam-no. Claro que não chegava. Ele queria mulheres. Ou mulherzinhas. O que viesse primeiro. Não estava, à partida, interessado em esquilos. Aliás, vamos esquecer os esquilos por um instante. Este sujeito magnífico, de nome Mário, não possuía demasiados interesses. Queria gajas. Considerava-se crente em chegar às 5000 mulheres. Isto sem falar no desejo secreto de se tornar no 103º dálmata. Mas adiante. Intimidava homens com a sua postura máscula. Os olhos sagazes revelavam um cálculo intimista preciso, seria um ídolo se se concretizasse. Um poster na parede de meninas imaginárias. Unia todas essas aproximações que ia explorando. Esquilos e bocas. Incentivava a fuga do papel.

Queria o tudo fazendo o tudo obtendo o nada.

Acontece sempre assim.

You do it to yourself.

You do.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

(Chip, Chip)

- Olá, como te chamas?

- Que te interessa?

- Não muito. Apenas gostava de saber. Afinal quem és?

- Fácil de responder. Sou aquela. A noite o dia. O princípio e o meio. Uma encantadora, uma espectadora. Uma encantadora de serpentes, uma fada.

- Define-me fada.

- A ti ou em geral?

- Para todos.

- Fada: "Ser imaginário representado por uma mulher dotada de poderes sobrenaturais." Mas isto não fui eu quem disse. Diciomário.

- E concordas?

- Em parte. Vejo-me mais como um espelho mudo, uma fatia de gelatina a repousar no Inferno.

- Isso não faz sentido...

- E tem que fazer? Não te podes entregar ao exemplar que soletro?

- Desculpa Fada...

- O meu nome agora é Metamorfose. E não te desculpes. Isso é para fracos. Estou farta de lamentações. Quero outras coisas. Quero luzes. Quero. Não há discotecas na floresta.

- E só vives aí?

- Não. Às vezes habito nos espíritos de quem odeio. Refugio-me nos olhos de quem desprezo. É uma forma de combater esta mortalidade agarrada.

- Não sabia que eras mortal...

- Nem sei se sim ou se não... tenho vergonha de tentar o suicídio.

- Pensas como um homem. No escuro diria que eras um.

- Não tenho tempo para discutir isso. Não tenho tempo... perco-me na sabotagem... sou um teatro peculiar...

- És demasiadas coisas...

- Parece que já não acreditas em mim...

- Não consigo qualificar-te, Fada, mas não me pareces assim tão complexa...

- Já te disse: o meu nome é Metamorfose. E sou um pedaço de fantasia à solta. Percebes?

- Transfiguras-te!

- Exactamente. Agora dá-me licença enquanto me mato...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Complexidade

Eras tu a minha raiva incandescente. Pequeno padrão à deriva, fortalecido por críticas desconhecidas, engrandeci-te com o poder mirabolante da antevisão. É divertido construir personalidades do nada, foi o que aconteceu contigo. Olhei para ti e decidi-te.
Agora que menciono isto, é real, torna-se exacto. Sou real, ligeiramente exacto. Como um relógio, como um X-acto perdido no abecedário.
Fascínio, foda-se! Fascínio, foda-se e aliteração! Que palavreado dócil, repararam? Isto de criar o inconcebível esgota-se mas é saudável. Dominar palavras redutoras é constantemente um diálogo de uma boca só, mas sobrevivo, de alguma forma.
Tenho estas coisas a trovejar no meu dentro tão interior. Eu, o antes normal que agora cria o que soluciona, que recorda e concretiza, apunhalado na infinidade da imaginação.
Se quero uma mulher, elaboro-a. Se não gostar dela, faço outra. Tanto a explodir, génio da lâmpada sem lâmpada visível. Amo e senhor, escravo sem embelezamento Disney.
As imagens podem ser reais. Aqui não há Segredo. Não é perigoso se ninguém souber.
Efeitos secundários? Uma cicatriz que ontem não me lembrava. Gosto do preço que pago. É justo
Limito-me a criar o tudo. Até ofereço arte para os pseudo-intelectuais.
Nada me afecta. Nada me seduz nunca mais. Nada me emociona.
Porque o mundo não é mais frio do que o gelo parece, porque transformo leite chocolatado em artes mágicas, porque me permito a permitir-me e sou a minha clara permissão.
Fixado em doses maciças de grandiosidade, destruo o infortúnio da complexidade.
Devoro o meu vírus como um pequeno almoço ligeiro.
Destruo-me.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Tudo o que não vejo não vejo porque não vejo
Se visse tudo o que não vejo veria o que não vejo, veria
Seria um desses, um
Adivinho de olhos

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Psique Semi-Auto-Bio-Gráfica

Sou homofóbico e astuto. Dói-me toda a cara e uma parte da cabeça. Tenho uma caveira no quarto, nos arredores, por aí. Apenas não a visito muitas vezes. Penteei o cabelo para trás. Pareço um pequeno pónei. Dos grandes. Raio de zumbido que está dentro, e sei lá, zumbe! Já lhe dei uma forma. É irritante e verde. Chama-se Zorpa. Delírio e embaraço. Tudo num só. Adorava agora mesmo hoje uma sobremesa de amnésia. Cada segundo com o próprio enlouquece. Se tomasse drogas todos saberiam. Quero escapar com velocidade proibida. Sinto-me mais mal do que bem. Estes dias. Escolheria uma dose de caramelo no sangue, se fosse eficaz. Não quero dinheiro. Só crédito ilimitado para viagens e conversas. Não sei quando é que o sol se dissipará. Não sei ver o futuro. Opções morrem no berço do entusiasmo. Autómatos frágeis não funcionais. O poder de recordações. Queria fazer mais para ter saudades de mais. Apetece-me subir e ser um ícone. Eu sei que do outro lado da linha não está ninguém. Tanta responsabilidade é um exagero, que desperdício. Autoridade e compromisso. Evito referências que me possam magoar. A casa é pequena, mas esperavas um palácio? Pesadelos são insignificantes na claridade do asfalto. Quando descobrir um método divorcio-me de mim. O que me impede o suicídio é a dignidade. Quem inventou a consciência foi um idiota. Banda Desenhada em quadradinhos circulares. Se receber uma encomenda por engano, fico com ela na mesma. 1000 é só um pouquinho mais que 999. Ele está metido com aquela. Vodca e vaca são palavras com "V". Um líder do virtuosismo em todas as áreas, deve ser fácil. O dia não acabou. Tarda e tarda. Amanhã será melhor são palavras mágicas. Egoístas incapazes de renegar mútuas ligações. Quero ser a praia do teu sol. Estabelecer as crónicas de um alguém ligeiramente confuso, explodido, decadente, curioso, inconclusivo, impaciente. Crenças avassaladoras. Estereótipos em mono. Se isto fosse de outra maneira, tudo seria diferente. Ataque cardíaco provocado por nada. Tenho que pôr mais baixo. No outro canal não dá o que queres ver. Representação é brincadeira, entretenimento para os inaptos na imaginação. O meu mantra não envolve nada positivo. A ciência de multiplicar obras de arte cheias de pó mas credíveis. Dançar com uma musa e delinear segredos consecutivos. O mais feio é o mais simpático. Justificações. Não vejo assim. Não sinto assim. Não sei assim. Parece-me interessante isto que "Não". Deixei a espada na morgue. O que está aqui é bastante aleatório. Mas fala-me de ti, o que te motiva?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Desinteresse Legalizado

Odeio todas as pessoas incluídas na esfera desta.
Todas e tudo e algo e algum e mais ainda tudo de dentro fora direita centro left.
As sentenças e os provérbios. As perdas de peso e as alegrias inconstantes.
As apresentações e os percalços. O que é proferido e contido, as palavras e formações, os desiquilíbrios e assombrações.
Os prédios e suas cidades, raparigas e seus cigarros. Cintos reluzentes e palavras pré-determinadas.
Intoxicamento da paixão, gargalhadas rastejantes, o amor que se julga por ele mesmo, beleza em conserva.
A apatia geral central localizada que controla/domina/absorve (riscar tudo o que interessa)
Doenças geladas, cultura afrontada aos pobres, discussões.
Mortalidade.
Vingança.
Cemitérios. Fraqueza. Sensações. Vazio. Falta de letras.
Falso compromisso. Igrejas. Desespero. Incoerência. Solitarismo.
Pessoas à minha frente. O deio as.

Questionamos sentido só pela finalidade. Somos felizes

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A Velha

Havia uma velha que se interessava por política mais do que por gatos, mais do que por telenovelas, mais do que por comida de gatos, mais do que por velhas.
Quando a luz do seu quarto pendia para lados menos comuns, assustava-se de maneiras tímidas desiguais.
E sentia de alguma forma que o bolo cor-de-rosa começava a dissecar no fundo mais escuro do seu frigorífico de luxo.
Fora, os cães fugiam rapidamente, numerosos carros ladravam pela noite dentro e a velha absorvia-se em detalhes alheios.
Tudo era longe.
E ela permanecia calada.
Jogava Tetris com a sua alma.

domingo, 24 de agosto de 2008

A Madrasta de Todas as Orgias

Em cavalgadas fotográficas, armamento fechado
Duras e nuvens, adivinhar pesadelos
Chamo fantasia a fumo, fumo a flores medievais
Segmentos de irmãs com conchas estrelares

É claro que uma linha difusa mostra
Delírios de activistas pirotécnicos
Barulhentos e verticais
Mas é claro de novo:

Somos estes que fogem e escapam

Um dia anulo hipóteses de existência
E vingo-me dela

O Instituto dos Pássaros Mortos

- Boa tarde, fala do Instituto dos Pássaros Mortos?

- Completamente.

- Perfeito. Queria informar que sou, neste momento, um.

- Um?

- Sim, sou um pássaro morto.

- Certo. E quando pode passar por aqui para passarmos à pós-morte?

- Sétima-feira estou livre.

- A que horas, por favor?

- Entre as 14 e as 20. Pelas 15 e 23. Antes das 22 e 12,

- Muito bem. E descobriu o segredo do preto e do branco?

- Por acaso sim. E devo dizer que estou definitivamente ansioso.

- Desculpe, ansioso para quê?

- Para isso mesmo.

- É o que nós fazemos!

- Obrigado.

- Só para finalizar as formalidades, pode dizer o seu nome?

- Er, acho que sim. Sou o ... chamo-me... o meu nome... está aqui...

- Sim?

- Sou o Gus. Internem-me.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Kitty Argyle III

O almoço num desespero, comer torna-se saciável na pobreza do redor.
Vítimas do roxo por afinidade, escondendo pílulas despidas na almofada, foi nesse dia que nos ajoelhamos por mais maquilhagem.
Que entoação educada e saltitante, os cotovelos apoiados no cobertor e o fervor entusiasta impulsivo de um visionamento sem entraves.
Rastejávamos aos solavancos, o suspense, susto a cada instante preso das imagens alastrou-se.
Tinha medo de não te saber reconhecer fora do ecrã.
Reparava em algumas crenças trocadas nessa habitual habitação. Abordava-me quando já te imaginava perdida outra vez por força demais.
Sempre farejaram quando gosto demasiado delas. Dão-se à liberdade de brincar com o garantido. De bonecas éramos feitas e assim queríamos ficar, juntinhas, mas não uma à outra. Estava indecisa quanto aos sentimentos que me provocava.
Queria redigir os estragos longe de jurisdições perversas.
A culpa de mímicas usadas transformava-me. Deliciosamente adulta tremia por mais.
Sei como era deitar-se de braços protegidos a ouvir os lábios da liderança a cravejar.
Afundava-me ainda mais no espectro da demolição que ajudara a criar.
Impensável desistir. Chamavam-nos estranhas. Tínhamos pesadelos aos pares. Sem qualquer sono envolvido. Tudo o que fizemos justificado. Castigo e aliança por merecer tão pouco.

«Quero-te ensinar uma dança.
Fechas os olhos em detalhe.
Fixas o prodígio. E sorris.
Não é bom sorrir?»

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Kitty Argyle II

As luas passadas a debater nomes de bandas, sempre doenças inexistentes, padrões de palavras agarradas ao último fio de nexo, lembro-me dela.
A sua voz de criança mimada a arranhar-me no crânio. Conheci-a.
Sinfonia em fase final de espanto, inicial na arte do crescimento.
Jogo de personagem, não a vi toda, não se permitia oferecer verdadeiramente.
Nem aos que chamava de amigos.
Toco em mistérios, e este está perto, ou esteve, pelo menos.
Apelidava como suas as aranhas, imaginava que as suas presenças estavam definidas para o seu prazer.
Um dia sei que ela mostrou mais soluços do que queria.
E tornou-se um choque para ela. Nunca mais me deixou observá-la enquanto invocava choros.
A sua sala cortada era um local de culto, mas demasiado privada para os gostos selectos das redondezas.
Sentava-se encostada à janela maior, encarando furiosamente os traços de céu.
A hora esperava, aproximava-se, queria um pouco mais de algo, não do mesmo mais.
Ela.
Parecia sempre mais bonita nas molduras em que não aparecia.
Sentia na maior parte das vezes um pulsar descontrolado que a dominava, um tipo de infelicidade contagiante aconchegante.
Mostrava sardas imprevisíveis ao longe.
Tinha saudades de si mesma.

«Vamos brincar lá para fora
Eu faço de boneca bonita
E mato-os a todos»

Kitty Argyle

Desde pequena que se mostrava dentro a si mesma. Odiava-se.
Seria um ligeiro suspiro poder respirar, aspirar o ar, levitar nos vidros mais longínquos.
Seria produto de artefactos e demónios, tocava-se regularmente a preto e branco.
A sua maior recordação não era outra. Seria nítida.
Consistia na sua visão electrificada a adormecer antes mas não de repente, primeiro a dançar, um rodopio agudo perante pares de cartas com cara, jogo combinado de reflexos e automatismos. Não havia dúvidas que seria uma exibição, talvez um ritual.
Demorava a ocultar o atroz fascínio de buscar o efeito de monstra.
Sentia-se uma monstra na amnésia presente que escolhera visitar.
Enorme, rasgos de ar a passar pelos dentes, cabelo dificilmente claro escondendo os restos de mortalidade.
Sentimento de espera.
Seria uma garagem presente num jardim passado numa cave. Com amigas cartas caras à volta.
Pediam-se para se mexer, rodava, simulava os limites de um videoclip acidental sem música.
Liberdade.
Queria construir, fora de castelos, longe de puzzles, uma ópera-rock.
Começara a trabalhá-la devagar, os violinos seriam captados com força de vontade.
Não sabia nada de música, não escutava notas, não sabia o que era uma nota. Uma gota.
Muito tempo desleixada abre as portas de cenários interiores, privados.
Tempo de filmes de terror, chocolate, tempo de ressureição.
Obcecar-se com traições que não ocorrem.
Estática no nevoeiro.

«É bom ver feios no ecrã
Se me portar bem, dão-me um par de tesouras
Posso cortar as minhas mãos com elas
De nada me servem»

domingo, 10 de agosto de 2008

Intimidade Aproximada

- Olá!

- Bom dia!

- Bom?

- Sim! Dia. Um dia bom hoje.

- Pois, não sei. levantei-me há 17 minutos.

- Certo, mas acredite em mim. Hoje é um bom dia.

- À conta de quê? Há borboletas no ar?

- Algumas...

- Onde?

- Não sei.

- Estão perto?

- Já lhe disse que não sei, mas se encontrar alguma, digo-lhe onde estão.

- É muito simpático o senhor. Como se chama?

- Sylvia.

- Nome bonito. Parece até de rapariga.

- Mais ou menos. Mas já me habituei a estar descalço.

- Eu também! E até se torna mais confortável.

- Claro que sim. Tens lume?

-Algum.

- Era só para saber.

- Muito bem. E como vai o olho?

- Melhorou, agora já posso falar em condições.

- Isso é que é preciso. Eu também ja tive alguns problemas desse género mas curei-os com um pouco de nostalgia.

- Deixe-me adivinhar. Tropeçou no acaso?

- Nem mais! E sinto-me melhor que nunca.

- Sabe como se diz, "À noite todos os gajos são parvos".

- Ora aí está! E com noites assim já só quero dias bons.

- Realmente, está um dia bom, não está?

- Bom dia, mesmo!

- Olá!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

A Agulha e o Anormal

Sou o bobo subtraído, pequeno e oculto. E sou melhor em actos do que em formas. Tenho esta tendência de acumular adjectivos e etceteras. Gostava de inventar novas palavras para o meu jogo atingir picos mais significativos. Apaixonei-me. Ontem e hoje. Talvez agora e amanhã. Por símbolos práticos, viciantes e esquisitos. Tudo no corpo de uma menina autista. O que eu não dava por uma mulher autista. De certo modo sou como a bala de um assassino. Estática e sorridente. Sou a maquilhagem usada de um palhaço arquitectónico. Dava a minha alma por uma conversa com a agulha e o anormal. E já me conheço, sei quem sou, sou o que me dizem. Vou estrinçar esses vómitos compulsivos que acabei de palavrear. Sou, sou, sou e pronto. Defino-me.

*

Eu de novo. Tenho um martelo bem dentro totalmente dentro, enterrado no meu interior. Continuo bobo. Bobo como a paisagem esta que saudável oscila. Ela não se move tanto como eu. E eu derrubo doses salgadas tanto por ela como por mim. Inquieto-me na sombra do cogumelo penetrante. Desiludo espíritos de igrejas a preto e branco. Adquiro um nome místico. Kareltje ou outro talvez. Ainda sei, ainda injecto, ainda vejo, ainda prometo. Os objectos não se importam de ser utilizados. Vou morder máscaras com ferrugem que ninguém se importa. Como sou, estreito e singelo, decido a forma que as nuvens adoptam. É uma das características que recebi pela minha exibição contínua.

*

Não sei se sou bobo, mas chamam-me de bobo. Devo ser bobo, é o nome que me dizem. Mas o meu nome não é esse, é outro.
Mas gosto do conforto da definição.
Mas sou bobo, em parte.
Mas que resolve um nome ou outro?
Sou aquele, o que me dizem e o que sou. O que faço e o que me fazem. Estou por aí e por aqui. Fui a alguns sítios e passei por outros. Já estive em toda a parte e em todo o lado. Tenho frio e tenho fome, calor e vontade. Tenho pernas e braços, olhos e bocas. Fiz tudo e nada, o meio e o esquerdo. Tenho dentes lindos, tenho dentes feios. Subi montanhas, lambi o arco-íris. Decorei um monólogo inteiro e sentei-me no público. Dei um beijo claro a todas as pessoas que não vi. Adormeci com um demónio no pescoço e rodei um filme misterioso. Vesti-me de boneca medieval e segui diamantes até casa. Voltei a juntar-me à agulha e ao anormal. Formamos a tríade perfeita, somos artefactos com licença imediata para a criação.
Qualificados para matar com um desejo telepático.
E viciados na desvalorização dos remorsos.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Perturbações Anacrónicas

Gosto de acessórios. Mudo todos os dias, não sei como vou ser quando acordo, cheio ou esgotado, talvez apenas na superfície. Criei um âmbito secreto, escondi-me na literatura visual imaginada.
Um momento não é só um momento. São todos misturados. Os que tivemos e a impaciência dos que não chegam. Gosto de provocar, mesmo ligeiramente. Procurar atenção mínima, centrada, personalizada. Gostava de ser mulher para ver o que alterava. Imagino amigos imaginários mas não os desenvolvo. Vejo a realidade ainda mais insignificante do que é. Caritas descartáveis. Tudo inútil. Pensamentos despropositados, lógicos, controlados. Governados por uma entidade que desconhecem. Vítimas da inconsciência. Candidatos falhados à liberdade. Quero Lego medieval. Cavaleiros pequeninos. Pressão e desconforto. Disponível em todas as lojas. Dois por um. Ser uma mesa. Tão divertido como ser um empregado.
Arrastado no Ego Melancolia, sempre que caminhamos não há direcção. Se morres enterram-te. Nada mais. Quero ser o príncipe dos ácaros, o rei de uma montanha de deserto e cristal. Espiar as pessoas, ver um reality show 24 horas por dia num canto do meu olho. Ter acesso a mais sensações, mais imagens do que era suposto. O destino justifica o que quisermos. Ter falha em relação a obter. Quero ver séries, muitas vezes, episódios repetidos que goste. Dramatizar a existência, a vida devia ser uma peça. Estudávamos o papel antes de sair de casa. Manipulação dos sentimentos, mimetização do nosso grau 0. Artificialidade torna-se natural. Como já é.
Nunca se ficava sem nada para dizer. O argumento estava sempre certo.
A inveja não é totalmente má. Move-nos. Sou o assédio invisual que incomoda. Uma alma de borracha a questionar a validade. Apetece-me renegar a fala. Só tenho que optimizar a minha ideia de telepatia. Mesmo aproximada. Não sei se agora há mais cabelos secos ou molhados na face terrestre. Bom tópico para me obcecar. Não, deve haver mais secos. Os banhos entram no dia mas não são o dia. A ternura de um peluche, os pedófilos não dão beijos fofos. Precisava de discípulos, cães submissos para espezinhar. Pena que não acredite em liderança. Mas ninguém precisa de saber disso. Ascender ao poder, mais profundo que o meu próprio corpo. Decidir pelos outros, palavras convertidas em dogmas. Aqueles que os que não sabem procuram. Nadar no leite dos meus eufemismos. Criam-se justificações para qualquer pormenor. Assumam, não tenham medo. Estes objectos não continuam aqui depois. Construímos a imortalidade à nossa volta. Devíamos destruir o que já não queremos utilizar. Uma dose de supremo egoísmo. Nada viverá mais do que eu. Mãe Cidade, a poluição não incomoda, desaparece da vista eventualmente. Induzir riso. Quero impingir a minha notoriedade não anunciada a quem passa. Um livro para crianças deve ser divertido de escrever e reler. Com um pouco de gore, claro. Acho importante salpicar a imaginação das crianças. Dedos elásticos davam jeito. Não quero mostrar estruturas mais complexas nas frases. Revelam demasiado. Caí no poço do fogo cruzado. Às vezes apenas letras ocupam. Surgem de todas as formas, de todos os tamanhos, de todas as cores. A mente não pode ser deixada a repousar. Encravo em frases que leio, frases que crio, frases que me contam. Sou o meu próprio conceito criador. O inimitável. Kinder Délice no País das Maravilhas. O que dizemos estreia em privado. A importância de dizer algo pela primeira vez. Sou complexo mas prefiro não notar. Um piscólogo brilhante no desemprego. Eu, com ligeiros toques de dismorfobia. Inexistência nas vozes dos conhecidos. Camaleão que espreita nas redondezas. Assusto-me facilmente com o rompante. Boneco de trapos controlado por impulsos mal colocados. Devíamos mudar de grupo todos os dias. O vento corta o silêncio. O mundo está em obras. Noto a desenvoltura dos que detêem a simetria. Quero desconstruir todos os sons. Dividi-los e misturá-los. Criar novos segmentos a partir de usados. Estou aqui para apontar e intensificar o que os outros vêem mas não sentem. Uma realidade mais específica. Sítio onde as reacções são válidas por 15 minutos. Amar, sofrer, recomeçar. Tudo durante a duração de um minúsculo deserto. Imaginação demasiado poderosa, cria e destrói. Ninguém está interessado, ninguém quer tirar uma fotocópia. Crio standards demasiado altos para qualquer movimento ou acto que me percorra. Sem dentes não saía à rua. Julgamentos. O dom da insatisfação. Mestre: coloco o complexo no simples. Fascinado com conversas fortuitas. Não se mantêem na repetição. Intervalos preocupam-me. As distâncias de tempo calculam e definem as nossas falas. Excessivamente lineares, seguindo cautelosamente a linha invisível. Quero destruir os limites da interacção. Quero ser o dono do advérbio de modo. Quero abordar o planeta. Serei as sardas no imperfeito sorriso de um gigante imortal. Possuído por dezenas de dimensões. Estaladiço e extra-dimensional. Criar-se adultos. Necessidade de se ser o que não se é. Criatividade nos insultos. Vaca em desuso. As ideias andam à solta, não são de ninguém. Criamos o incrível criado em segundos. Não obtemos a patente de nada. Sou um adolescente numa garrafa. Provoco o irreversível em cada jogada. Num instante somos feios. Músculos paralisados pela escolha de outra pessoa. Na aleatoriedade. A pontuação do giz a bater no quadro. Seca e determinada. Eliminar as dúvidas. Branco esclarecedor. Castigar poderes e usá-los de novo quando for apropriado. Quero agarrar os monumentos ao longe, não me escapam.

Estou atento num mundo desatento. Incompleto num mundo repleto.

Um acento circunflexo em palavras que não o precisam.

Sou tudo o que não sou. Algo entre a imaginação e o suicídio...

domingo, 22 de junho de 2008

Um Sabor Semelhante

E não a segui completamente. Deixei que se abandonasse esta noite com as suas habituais preciosidades. Tenho a certeza que dormirá de forma calma, ordenada.
Começará por se despir lentamente enquanto suspira baixinho uma música que adore.
Estará no ambiente perfeito para soltar melodias da sua boca subtraída.
Colocará uma vela roxa com algum aroma fantástico, talvez o de uma fruta invulgar que ainda não tenha sido inventada.
Vai recostar-se na sua cama recortada e pensará num pequeno resumo do seu dia.
De olhos fechados, a tocar nos seus braços como mera distracção, deixará que o tempo lhe invada o rosto enquanto se lança para outro mundo. Chegou, bela. E a sonhar.

*

Queria modificar a leitura suprema do habitual. Subiria com ela. Agarrar-lhe-ia a mão. Confortava-a, fazia-a ver que só ela interessava na minha estupenda realidade.
Não precisaríamos de falar. Enegrecia-lhe as ideias com um olhar certo, transformando qualquer dúvida em certezas absolutas.
Atirava-me às suas conversas, ligeiramente autistas, recheadas de sons que se perdiam facilmente no seu mundinho interior.
Em vez de simplesmente ouvir, escutava-a, ansiando pelo alcance das suas letras.
E pararia de repente, para a poder descrever mais tarde nos espelhos da minha mente.
Espreito a sua expressão maquilhada, a sua cara de perfeita anoréctica linda perfeita. Sucedem-se impulsos, não era só o seu sabor que detinha, estava a prová-la toda, os seus sorrisos, as suas imperfeições, os seus supremos sentidos, a sua atitude agri-doce.
Tinha captado uma explosão em câmara lenta.
O seu corpo, a sua roupa. A sua cor.
Tudo ao arriscar um pouquinho, ao desafiar as medidas e lançar-me nas cavernas de uma interacção pura. Criei o que não existia.
Os poderes de uma droga semelhante a alusões plenas do passado.

Portanto...

- Desculpe, importa-se de parar de olhar para mim?

- O quê?

- Reparei que você estava a olhar para mim. E acontece que eu já tenho namorada, portanto...

- Você é pouco convencido, não é? Francamente... Não reparou que estou concentradíssima na minha leitura?

- Não ... porque isto é assim, se tivesse reparado nisso, aí estaria eu a olhar para si, e como já lhe disse, tenho namorada, portanto...

- Ouça! Acabei de lhe dizer que não estava a olhar! O que quer mais? Uma confissão? Preciso de chamar o meu advogado?

- Está certo então ... não se enerve...

(...)

- Mas se não estava a olhar, estava certamente a pensar em olhar...

- Mas que porra é que você continua a dizer?

- Só estou a enfatizar como sou bonito... Agora que já me viu, sinceramente, o que acha?

- Oh ... não seja parvo...

- Vá lá...

- Ok. Você é um homem atraente. . . mas isso não quer dizer nada...

- Pronto! Aí está! Era só o que eu queria saber! E que diria se a começasse a beijar neste preciso instante?

- É impossível sequer pensar nisso...

- Então mas porquê?

- Acontece que você tem namorada, portanto...

sábado, 21 de junho de 2008

Noites Inventadas

Invento noites para afugentar os perigos da normalidade. Era dia de sair.
Aliado pelo sofá que afundava de forma rara, conquisto a casa, tornando-me definitivamente o príncipe da ocasião. Todo o ambiente em redor parecia simplesmente uma mini-suite em decadência. A luz central pouco forte evidenciava as personalidades da companhia.
Éramos todos parvos. Comida com fotografias, sumos estranhos, fingimento aos impulsos repetidos.
Vento agora e noite também. Um bar começava a abrir o resto do tempo juntos mas não havia conversa. Tudo a dizer já tinha sido dito. E era só treta superficial.
Um homem barbudo agarra-me com entusiasmo, pergunta-me o nome. Ponto alto de reconhecimento numa noite, que mesmo inventada, se revelava redundante.
Próximo bar. Neste a música simula ondas de miséria. Com tanto fingimento, finjo ainda mais e crio uma pretensa relação comigo mesmo. Afasto-me. Sou meu namorado. Mas continuo a não conseguir ver quando preciso do que preciso. Mantenho-me complexo e duvidoso.
Passa uma rapariga atraente. Isto das miúdas é simples: Há algumas que são atraentes e existem algumas que não são. E também há as que são mais ou menos. E dentro de cada categorização, inúmeros factores e nuances combatem. Muito simples, portanto. Tudo tão objectivo quanto a palavra indeciso o permite.
O sítio parecia um quadro farto, desgastado, com uma voz incorporada constantemente a martelar-me: Não te dediques à decadência, não a incentives.
Antes a rua fria salpicada com toques contraditórios de luz e alma, agora cadeiras finas em mesas rústicas.
A entrada de um navio majestoso. Com escadas de cada lado. Apetecíveis.
E ali mesmo, no meio de todo o pseudo-luxo, permanecíamos.
Não há pessoas interessantes.
Não há ninguém capaz de surpreender.
Só mestres de imtação do que já sabíamos.
A música deslizava provocante pelos nossos cérebros cheios.
Não somos mais do que isto.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Tragédias Salpicadas Com Especiarias Cósmicas

Mais que um número
Dezassete
É
Uma palavra
Relativamente grande

Relativamente também é grande
E não só relativamente
Apenas é

Quando nos tornamos grandes
Aprendemos a não chorar
É bem fixe

E neva, e neva
No cimento das escolas
No doce queimado
No dorso de cães
E neva, e neva
Na neve nevadinha
Na neve molhada
Na neve
Neva

Chupa-chupa
E não é uma ordem

Cansada, a fada atarefada
Relegou os poderes à irmã lésbica do Pai Natal

Não a podes culpar
São os genes
Não a podes proibir
São as mulheres

sábado, 7 de junho de 2008

Porque Desta Vez ... É Pessoal!

Inconclusivo em conclusões precipitadas
Não mudo de opinião
Não me apetece
Chineses a falar português, que é isso?
Apetece-me racismo
O preto deixa os acidentes acontecer
Um gajo chamado Paté
Matem os artistas
Matem os namorados
Simulo conversa banal
Não te quero alarmar mas
Um cadáver tem mais genica
O outro lado da lei
O primeiro lado da vedação
Arranjo da prosa para parecer bonita
Eu sou eu, talvez tudo
Espião numa concha
Sou os Feiticeiros Negros
Dá-me chá
Dá-me livros sem aquelas cenas impressas
Dá-me...
Pessoas!
Reúnam-se todas à volta do mundo
Está na altura de mentir um bocado
Eu inspiro-me
Mesmo querendo enfermeiras com putedo na alma

Sábado De Vértices

Uma sauna de diferentes tipos de suor
Gelado e batata frita
Não vou sair sozinho nem com alguém
Sinto-me limão
Não tenho sono
Apetece-me ser famoso
Furar veias
Chupar sangue
Magoar
Deleitado num ritual vampiresco
Queria ser um coelho bonito na banda sonora de pesadelos agridoces
Será legal casar comigo mesmo?
Vou dormir ao contrário
Bebi o resto da 7 Up
Apetece-me não morrer
Comprar algo seria materialista
Sorriso metálico
Perfeito e solitário
A não repetir
Apenas porque não preciso
Dedicar uma serenata ao sol
Aquele suor era para continuar
Desta vez na íntegra
Fico na dúvida do que diria da foto que não vi e
Não me descrevem
Um sábado cheio de vértices
A não repetir
Apenas porque não preciso

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Drogas Com Sabor a Melancolia

Quero atirar-me contra a parede, percebes, porque eu não sei... é isto.
Apetece-me rir, apetece-me falar em jeito desconexo. Em 3 anos, se tudo der um giro esquisito serei internado. Já estou a ver o casaco de forças. E tudo branco à volta.
Não sei, acho que não sei, apetece-me melancia, sumo, claro, correr um bocado, mas não gosto disso, cereais, sim, talvez, misturo desejos, dominar a Natureza, experimentar vários sentidos, percebes?
O corpo como uma droga, viciado em mim mas nem queria, nem escolhi isto. Viciar-me noutra, também já está feito. Tenho pequenas doses dela. Não me chegam mas finjo que sim.
Queria ser não uma pessoa, ser coisas, acontecimentos, sardas, primeiras vezes.
Ver gatos a dançar, aqui mesmo, agora mesmo para mim o pensamento accionava as próximas acções.
Controlar com uma vontade contraditória.
Um soberano indeciso a mudar tudo, a juntar e a desfazer o puzzle.
Se explodisse não me regenerava, depende muito do impacto e do barulho.
Sim. Interessar-se é difícil, apaixonar-se é complexo.
E neste restinho de dúvida e certeza vou-me aproximando de aproximações de tudo que eu gostaria definitivamente de me aproximar.

Múltiplas Cabeças

No coração do mitológico
Há espadas a arder
Paredes a falar
E cães que ladram baixinho
Para não perturbar
O sono de Cérbero

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Bichos e Gomas

Cansada de homens de sucata e de mulheres belas em inconsciente decomposição, decidiu apaixonar-se por um animal pseudo-intelectual.
Primeiro instinto foi certamente, a aqusição de um lémur já embalado com óculos pretensiosos e talvez até um piercing a cair de lado, tentando renegar as leis da simetria.
Bissexual assumida, seria agora uma trissexual, espécie rara, ou talvez até uma "vai-ao-que-mexe" segundo as noções gerais de peritos aborígenes do Sudoeste Africano.
Balançava a importância de se inserir no meio certo com as hipotéticas vantagens de se tornar numa crítica gastronómica, quando de repente, com a velocidade de uma nuvem frigorífica, o seu maior problema interrompeu-lhe todas as faces do pensamento.
Pelos vistos, todos os seus beijos técnicos culminavam em romances bombásticos.
E embora isso a ajudasse a compreender melhor os segredos da linguagem, há já muito tempo que a História lhe tinha ensinado que nem todas as gomas com açúcar por cima são as mais doces.
Nem mesmo aquelas envoltas em misticismos teatrais.

O Súcubo da Madrugada

Desgaste apaixonado, uma terça feira qualquer suspirava pela porta suja. Truz-truz. Chamavam-lhe o súcubo da madrugada. Vestia-se de Mestre com sandálias altas e era guiado com certeza pelo ondular clássico de um ritmo de uva seca.
Como todos os súcubos, era muito sensível e com ligeiros toques de ambição. Vendia sapatilhas em terceira mão, usava dedos postiços violeta e nos seus duvidosos engates recitava a letra de Master Of Puppets como se fosse uma técnica infalível.
Quando não jogava ténis desejava ser careca e era curiosa a sua respiração: sempre que tomava uma decisão voltava logo atrás. Circunferência do saber, os seus pulsos eram um enigma, dizia-se que os conseguia rodar inteiramente. Lendas que se misturam na imaginação dos credíveis, de parvos que se assustam com bichos.
Aparentemente, não dava para continuar o seu emprego. Raras pessoas se interessavam nas qualificações de um súcubo, por muito admiráveis que fossem. Mesmo assim, alimentado pelo néon, decidiu insistir no seu desejo de perturbar a civilização.
Raptar crianças seria a solução. Mas desta vez não foi só buscá-las à mente, nada disso. Penetrou bem fundo no quarto dos pequenotes da porta ao lado e teve a sorte de encontrar trigémeos. Tinha fingido o procedimento tantas vezes que agora a realização era tremendamente natural.
Executou o plano na perfeição, dedo após dedo, mão no gatilho, pé na almofada, unha na fumarenta faca, deixando que a mutilação o comandasse.
Os hemisférios brigavam em uníssono perante toda a idiotice. No fim, só ficaram as sardas pimponas a tentar equlibrar-se nas feições decepadas. Caras de espanto dos pais pela atitude:
"Que indecência! Nem sequer deixou um recibo!"
Claro que não. Cicatrizes valem mais que papel.

domingo, 18 de maio de 2008

Novelo Oportunista

Desejo ser pecador
Como os anjos, como os santos
Ser um discípulo
Cego ou traidor, infame ou construtivo

Com uma barba e toga parva
Desenharia malefícios num chão sem fundo
Almoçaria curiosidades de mãos sedentas
Arrancaria os braços numa piscina de inteligência artificial

Tudo enquanto esperava por algo mais grandioso
Que ocupasse o meu tempo

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Encontro Moedas De Chocolate Na Carteira

Não estou certo se as árvores estão vivas
Ou se apenas se mexem
(sempre achei isto da Natureza um pouco curioso)
Não me admirava se me dissessem uma coisa ou outra
Desde que fosse bem articulada
(línguas lentas não mais)

Já cansado de indagações
São os dentes dela que me subvertem
Ao embater nas riscas soltando

Estou aqui

E Mais

Inquieta e serena
De nuvens doentes
De figuras
E crises na ala psiquiátrica

A carta que nunca leste
Sobressai uma vez mais

domingo, 11 de maio de 2008

Doenças e Diversões

O que se esconde no tornado invisível
Traições entre copos de cerveja industrial
Fotografias na parede em símbolos
Ar disparado pela janela ensurdecedora
Vilões que regressam à mesa de origem
Jogos de azar quebrados, cartas esvoaçantes alcoolizadas
"Não é certo começar uma guerra por nada"
Moedas e prostitutas
Queimaram o palco há uns anos
Sinais de redenção nos olhos gastos de um barman prestes a algo
A actuação pertence ao padre
O Diabo e o Mar juntaram-se para uns copos
"Senhor, eu mudei"
Artificialismo florido de fogo
Barba de fogo, barba de fogo
Grávido de melodia suprema
O postiço dentro de ti
Rei, o ambiente de um choro comprometido
Hoje não gosto de nada
Preciso de princesas com ambulâncias tatuadas no rosto
"Vem comigo, nunca seremos tão ordinários como hoje"
A vida afecta-me como um fade-out desprovido de início
Quase personagem de uma galáxia penosa
O fumo traz o bafo a liberdade na ponta
"Faltam anões aqui, não combatam a diversidade"
Azeitonas são devoradas por loucos do saber
Apostas em como a chuva se infiltrou
Instrumentos qualificados para aterrorizar as consciências
Uma guitarra sem cordas é só madeira
A louca sabe, espera e mais que imita
A louca apaixona-se facilmente mas não me quer, com um riso largo
A louca morreu naquele bar

Doenças e Diversões II

Sente-te bem para te sentires bem
Deixa-me ler para mim
Não chegamos às cadeiras, ele colocou-as demasiado alto
Serve-te da dor, rejubila
Paredes circulares lavadas no silêncio
Dinamite no soalho, perfeito, refeito
O chão continua sujo e primordial
Convidei alguns escaravelhos sedutores
"As crianças não deveriam desaparecer afogadas"
Espadas na taverna estável, a luta foi ontem
Robusta iluminação, efeitos de magia comprometedora
Partimos a sombra de um padre cego
Há um buraco na esfera desprotegida que guardo
O Diabo e o Sol juntaram-se para um copo
"Senhor, eu pequei"
Ajoelho-me nos degraus de um demónio menor
Preparei-me todo para ele e a sua vingança
A confusão gera palácios
Salas incompreensíveis de suor e pedra
Limites imensos impostos imperdíveis
"Dança nos lábios do vulcão, fá-lo"
Saciada água pura, vamos vomitar só por divertimento
Documentários da altura sem câmaras ou lógica
Batida singular de traços que se perdem
Ácidos no mundo, cores criadoras famintas
"Preciso de uma estrela para brilhar no meu colo antes de adormecer"
É isto, salgados fora do prazo
Álcool sanguíneo lambido dos dedos mortais de simples renegados
Comprei ironia num leilão intimista
Abençoei cruzes sexuais amaldiçoadas
Conferi-me o estatuto de Inverno
Soou o cântico a impressionismo
Sou jardins sem verde
Ressuscitei o fantasma
"Ela ainda gosta de mim"
Inoportuna nos desvarios crónicos
A louca cuspia balas sem pestanejar
A louca está viciada nos segundos, mimada no tempo
Não há tempo
A louca matou-se no lugar

Doenças e Diversões III

Produto destas colaborações excêntricas
Entregaram-me a chave de graça (obrigado por nada)
Vês o interior sem meditar?
Quantas miúdas doentes vês?
Traz-me o medo, vamos
Quero ver, louca, os teus presentes
Cancro, SIDA, sífilis, hemorragias no córtex cerebral
Vamos, é tudo o que sabes fazer?
Divorcia-te da minha infelicidade, alia-te à minha grandeza
O Diabo concorda, sentado lá ao fundo a acenar, concorda
Anda lá, acena de volta
Sempre gostei daquela aura de mistério
Perfumado e sensual
Confunde a sexualidade
O reino do Não Sei
Gostamos mais de falar do que fingir interesse
Promete-me o que não podes
Silencia em mim as tuas feridas certeiras
Tenho-te a ti a martelar, a mentir, a asfixiar
E o Diabo na cabeça
Visionário das emoções incertas (certezas incertas ainda tarde)
O amor perdeu
O chão sujo e moribundo escapa
Gelado desconcentrado e um violino farto de restos
Comia as tuas ruínas se fossem as mesmas
Disciplina para não sentir nada nunca mais
O Grandalhão Negro, príncipe da traição
Eu por um dia
Se fosses de chocolate magoavas igualmente
Louca, despedaçada, quero levar-te a um filme
Derramado e com toques do que não quero mencionar
Enjoo da memória de fundo falso
Não entendo pequenos animais em bicicletas, nem quero
Jogos no parque infantil
Identidade em risco pelas pegadas dela
Uma carta para estas ocasiões
Agonia às colheradas
Doenças e diversões catalogadas
A louca apoderou-se da visão em indícios selvagens
A louca entretém-se com torturas subtis
A louca aproveitou para um suicídio romântico
Dispendioso, ao luar

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Éplicas


- Ultimamente estás frio comigo ...

- É natural, não gosto de ti.

- Não me gozes...

- A sério, não te curto.

- Oh, estás parvo...

- Vai mas é fazer-me o jantar.

- O que é que tu queres?

- Sei lá... algo com massa.

- Está bem.

- E salsichas.

- Ok, pronto.

- E rápido.

- Deves pensar que o mundo gira em teu redor...

- Vai-te foder. E diz-se "gira à tua volta", não "em teu redor". Às vezes não te percebo, pareces estúpida.

- Pareço mas não sou.

- Acredita. És estúpida.

- Pára de dizer isso...

- O quê? A palavra "estúpida" incomoda-te? A realidade atinge-te?

- Já me começas a enervar...

-Estás enervada...essa é boa...estás enervada. E eu? Como achas que me sinto por viver com uma retardada? Diz-me...quando foi a última vez que leste um livro?

- Não venhas com essas tretas... sabes bem que isso tudo da inteligência é muito subrejectivo...

- Muito quê? Muito quê? Desculpa? É que acho que não te ouvi bem...

- Então?! Eu disse que a inteligência é muito subre...

- Lindo! Subrejectiva! Foi isso mesmo! Retiro o que disse! És um génio! Até inventas palavras!

- Olha... dizes mais uma boca dessas e eu zango-me. Zango-me mesmo!

- Ok, ok, acalma-te.

(...)

- Vaca...

- O quê?

- Hey! É apenas um facto! Negas que és uma grande vaca? Negas, negas por acaso?

- Olha, continuas com essas coisas e eu não te perdoo. Eu juro que não te perdoo.

- Puta! É o que tu és! És uma puta! Odeio-te! Como já te disse, acho-te sinceramente estúpida. Só estou a viver contigo porque não me apetece arranjar trabalho, és feia, a decoração aqui é horrível, as cortinas não combinam, não sabes cozinhar, não gosto dos teus pés, ouves música parva do Tibete, não sabes fazer amor, comes tostas mistas sem queijo, apanhas mocas de incenso, és gorda, maquilhada pareces um palhaço, os teus dentes assobiam de forma estranha, exageras nas mini-saias, e deves achar que o William Shakespeare é o melhor marcador da liga inglesa!

- Achas mesmo isso tudo?

- Ah, e odeio a forma como bebes leite directamente do pacote. É nojento.

- Oh, estás a ser estúpido...não sabes o que dizes.

- Ah, mas sei! Claro que sei! Tudo isto é absolutamente verdade! Dogmas, percebes? Estou a lançar-te dogmas!

- Estás muito convencido hoje. Devias descansar um pouco.

- Tu não percebes nada mesmo! Repara...vou sair...e nunca mais me vais ver! Acabámos! Puf! Que tal, ahn? Finalmente! Estou livre, estou livre...posso fazer tudo o que quiser a partir de agora. Tudo. Até nunca!

- Até logo, fecha bem a porta. Ah, e olha...não te esqueças de trazer leite quando vieres.

Um Futuro Sentimental

Em cada 5 dos meus sonhos
Deus é um cigano amador
Praticante de jiu-jitsu rudimentar
Em cada 3 dos meus lugares
Deus é uma pluma duvidosa silencial
Contratada para matar
E em cada 1 dos meus livros de fantasia
O piano dos minutos sobre o pobre poeta do tempo
Fingido
Concebido para destruir

terça-feira, 6 de maio de 2008

Orange and LSD

Here comes the rain again
And fear is by my side
The bright blue sky is turning grey
I'm wearing a disguise

The place I'm in is ocean made
And purple is the queen
All I want and all I see
Just clouded in my dreams

Free...I'm home again
Free.. I'm me again

And I'm just like somebody high
And I'm just like somebody high
And I'm just like somebody high

I'm gonna face another breakdown

Here comes the rain again
It hammers on my soul
The colors die in front of me
A delicious burial

The place I'm in is only time
The hours stand alone
Invisible rainbows over me
Orange and LSD

Free...I'm home again
Free.. I'm me again

And I'm just like somebody high
And I'm just like somebody high
And I'm just like somebody high

I'm gonna face another breakdown

Orange and LSD
Orange and LSD
The sweetest melody

O Mundo e os Seus Pés

Desconhecia-lhe a cara naquele ambiente. Mickey ou Alfredo, seria igual. A escada rolante de visões aligeirava-se como uma brincadeira infantil perante a minha insaciedade. Esse foi um desses dias em que o simpáticos vieram à tona.
Foi no museu, a maior parte do tempo onde conheci os ilustres. Estava lá, por exemplo, o tipo que injecta tinta azulada nas unhas para poupar tempo. Bem agradável o seu esforço. Encontrei na mesma situação mosaica um leiteiro que se intitulava como o Homem-Formiga que Dispara Raios das Entranhas. Claro que não acreditei em nada daquilo. Os leiteiros nunca vão a museus. E pena, mesmo pena que não convidaram o Sol, acho que ele daria um bom equilíbrio à sala. Deve ter ido de férias para algum sítio quente.
Os convidados estavam impecáveis nas suas alugadas vestes. Além disso, devoravam as últimas gotas de champanhe com uma eficácia de cristal.
Já era fim de noite quando reparei que os quadros não eram quadros, a sala não era uma sala e o museu não era bem um museu. As telas estavam vazias e a antes sala agora mini era apenas uma habitação.
Ouvi um aceno gentil do outro lado da plataforma e corri em direcção ao sorriso loiro. Era uma peça que faltava certamente à incoerência do meu dia. Encantadora como uma brisa de Primavera, ela só tinha olhos para mim. E que olhos! Holandeses e subtis! Acho que me apaixonei pelo conhecimento que ela estava prestes a impregnar em mim. E a saia de pestanas também me provocava algo de que não me recordo. Misteriosa, usou os lábios e entregou-me tinta, esfregámo-nos com tinta, sujámo-nos, pintámos, preenchemos com vida e morte o branco apresentado. Agora o museu tinha quadros crus, intensos da paixão excessiva e criatividade repentina de dois pequenos. Eu, que me esqueço das minhas ambivalências e ela, a rapariga da Holanda.
Ela que nunca mais a vi, mas estou certo que ainda hoje anda por aí a controlar o mundo.
O mundo e os seus pés.

domingo, 4 de maio de 2008

Artisticamente Falando

Quero viver nos sonhos da Diamanda
Quero viver nos sonhos da Diamanda
Sentir o baton a escorrer
Pedir-lhe para lamber
Pedir-lhe para lamber
A imaginação para dentro e fora de mim
Para mim e para fora dentro imaginação

Diamandaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

A tua cuspida voz!
Teus demónios de branco!
O teu piano racista!
Tuas lendas em dialecto!
A tua boca encantadora!
Tua brilhante negrura!
A tua pétala venenosa!
Tua aura semi-pura!

Quero viver nos sonhos da Diamanda
Quero sonhar nas vidas da Diamanda
Mais que uma são muitas
Mais que muitas

São uma

sábado, 3 de maio de 2008

O Anjo, o Corcunda e o Biscoito

A luz era fofa. Um candelabro. Parecia a sombra de um coelhinho na sombra.
Dizem que ele gostava de moda, observava as flores a converterem-se em mulheres, as mulheres em lagos, os lagos em pedra. E a sua voz era rouca como vidro lascado.
Hoje era um sábado e havia fumo no ar, denso e prolífico. Lixo liso acomodava-se na mesa, pequenas recordações de uma noite bem passada. Urgia a necessidade de um plano. Gilberto estava atento, tinha acabado neste preciso momento de snifar umas quantas formigas. Já Stefan olhava raivoso num misto de inóspita ternura e infinito para as pernas suculentas mais próximas.
3 gangsters sonhadores sem fortes motivações. No ar, a inexistência do riso. Nos bolsos, armas letais.
De súbito uma necessidade de coçar as pernas atinge o trio. Uma comichão não dura mais que 7,2 segundos. Não nesta mesa. Era uma mesa especial, se é que essa palavra descreve ou alguma vez descreveu acertadamente alguma coisa.
O nervosismo estava colado às fatias na parede sem intenções de fugir em breve.
Suados, sentiam os sinos da salvação a galopar nas bocas salivantes, a cartolina estava bem aberta, havia um destino traçado e o próprio jogo estava em jogo.
Embora as letras estivessem demasiado rabiscadas o plano era bastante simples: Raptar o universo e obrigar todos os mentirosos a confessar.
Curiosamente bem estruturado estava o trabalho. Rimava, as pontas adormeciam certas e até os objectivos menos intencionais tinham a precisão de um xadrez de luxo. Iria resultar. Os 3 amigos unidos pelo desgaste sabiam-no. Cânticos eram proferidos e migalhas eram cuspidas umas para cima das outras. Tudo numa simples curvatura. Era hoje que o benéfico Apocalipse se preparava para emergir. Groselha, vodka, leite. Cada um engolia com ênfase o seu produto.
Estalidos na atmosfera. Voz.

- Olha os meus amigos! Velhos compinchas! Não precisam de agradecer a minha presença! De qualquer maneira, não demoro muito. Hum, noto que ainda mantêm a mesma cara de idiotas do costume! Fenomenal! Bem, só vim recordar-vos das vantagens de ler os pensamentos. É útil, sabem? Dá jeito.
Principalmente para evitar que certos idiotas façam parvoíces ... ou deverei dizer ... idiotices?
Ora, não interessa, esse plano não resultará. Destruí-o com a minha mente. Acabou de acabar. Assim como vocês. Os mesmos idiotas de sempre. O Anjo, o Corcunda e a porra de um Biscoito.
Despeço-me garotas. Beijocas!

Conselho

- Como te podes entusiasmar com vitórias ou dinheiro? Se te queres fascinar realmente com algo fixa alguém que não conheças e imagina-lhe a voz. Quando finalmente a ouvires vais surpreender-te.
Cara e melodia nunca combinam quando brincas com previsões.

O Conto Mais Pequeno Do Mundo

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Era uma vez o conto mais pequeno do mundo.
E viveu feliz para sempre.


Fim





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Como Elogiar Uma Mulher Sem Ser Mal Interpretado

- Estás linda! E isto que acabei de dizer, é, sem enganos, um elogio. Uma simples combinação de palavras forjadas com o único intuito de te fazer sentir bem. Poderia ter escolhido outros adjectivos, é certo, mas a leve palavra linda salienta bem toda a tua magnificência. Lin-da. Duas pequenas sílabas oscilantes, um pêndulo de sonho. Quero que saibas que provocas em mim a força de um demónio apaixonado, és a minha missão, a minha lua, o meu mandamento!
Desculpa-me por estes impulsos, mas não consigo evitar perder-me na sombra da tua elegância.
Despeço-me por agora e aguardo ansiosamente pela próxima vez em que o teu semblante queira partilhar a minha humilde presença.
Até ao próximo piscar de olhos.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Versas

-Olha, casas comigo?

-Caso.

-Que bom.

-É...

-Vamos comprar aquela casa perto do lago que vimos ontem.

-Certo.

-Gostaste, não gostaste?

-Sim, achei-a acolhedora...

-Óptimo. Ah, vamos ter dois filhos. Uma rapariga e um rapaz.

-Como se vão chamar?

-Não quero nada muito acidental, pensa em nomes com classe..

-Certo. Hum, bem, definitivamente Bernardo.

-Concordo. E para a menina, Mariana.

-Mariana?

-Sim. Simples e bonito.

-Certo. E férias?

-Miami. Japão. Brasil.

-Muito bem. Quente. Místico. Quente.

-Que filme, logo? Armaggedon ou Pearl Harbor?

-Não são parecidos?

-Ok, fica o Titanic.

-Parece-me bem.

-Arroz ou massa?

-Massa.

-Fruta ou gelado?

-Os dois.

-Anal?

-Oral.

-Está a ficar frio...

-Sim, vi no jornal que as temperaturas vão baixar.

-Provavelmente.

-Mas ainda se está bem aqui fora. Repara como o sol brilha. É lindíssimo. Parece que está a explodir continuamente no céu.

-Cala-te. Estou farto de te ouvir.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Desenhos e o Mundo

Relva psicadélica em colagens psicotrópicas
Homens vestidos de peluche
São vacas e etcetera
Revoluções infantis nos olhos de uma criança
Cor de rosa é açúcar
Pó para os inexperientes nestas artes
O imaginário do oriente a latejar
A origem do jogo bombástico
A vida não é vida
Humanos e desumanos
De olhos fechados
Paragem no tempo no momento mais oportuno
Tomada de irresponsabilidade quando a idade aperta
Ilusão de uma freedom para não rimar
Somos grandes!
Somos vitoriosos!
Somos pequenos!
Somos crianças!
A arte arde mal feita
Somos desenhos

O Medo Animado

Verde é o mundo medo
Nas redondezas
Mais escuro em profundidade
Estável
Caos criado
Ele sabe, apesar da fachada
Ele sabe como respeitar uma flor
Ganhou o prémio e a honra
As moedas mais fortes
Os sopros menores
Já nem havia polícia
Nesse mundo medo animado
Mas era tarde
Assassinaram, assassinaram
O bode Jeremias

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A um Deus Mais Interessado Em Beatificar Manteiga Do Que Em Tocar Flauta Transversal

*






Diz-me Deus
Deus do Leite, Deus das Coisas
Deus do Impuro, Deus do Perdão

Os sinónimos que ficam
Entalados na tua garganta
Celestial








*

terça-feira, 15 de abril de 2008

Angústias de Uma Cenoura e os Cérebros de Animais Espezinhados

Dentro do homem que nunca ri
A mulher que raramente mente
Solto contacto entre ódios
Pontapés efeminados e machos
É uma digestão dos membros em soluços internos
Ácido reabilitante castigador
Luta! Acorda! É a luta!
Insensibilidade vs Êxtase
Perguntas contra respostas
Ciclopes de peruca a beber limonada
Na antecipação
Bilhetes à venda para o espectáculo
Uma amostra e a corrida dispara dispersa
Demasiado, tudo, algo
Loiras são mais bonitas, dizem
Realidade vs Angústia
Uma cenoura
Uma cenoura
Não acho que sinta o impacto
Dos cérebros de animais espezinhados
Uma cenoura
Uma cenoura
Não acho que sinta a angústia

terça-feira, 8 de abril de 2008

Marca

Soluçada, mini-tatuagem de restos
Embutida, tabuleta triangular
Há um sinal na parte de trás da tua cabeça
Uma marca a recitar:

"Ignora-me, se me vires.
Se um dia me vires, ignora."

Rumores

O implacável magoa
A vitória cansa
O fogo chateia

É a pediatria do correcto
Uma extinção de respostas subtis
Queimadas ao não fixar o arquivo cortante

Indefinições
Somos manifestos pós-vida
Com o impossível a cravejar nas costas uma faca adormecida
Um beijo de almofadinhas

Estruturado no intervalo crescente do sono que nos separa

quarta-feira, 26 de março de 2008

Magreza

Sonho que me afundo
Sonho que me afasto
Sonho que me mato

Promovido a líder de discrepâncias
Observo as cadeiras que não se equilibram
Não deixo que me observem
Uma rocha, uma ilha
Sou deserto
Uma tentação desumana ao serviço de todos
Metamorfose espontânea a desenvolver-se lentamente

Sinto que me afundo
Sinto que me afasto
Sinto que me mato

A hipnose badalada felicita os distúrbios
Fico murcho seco
Sou o espelho da minha própria anorexia
O estudo inegável da verdade
Um rato na neve deitado
Faca à espreita

Sonho que me afundo
Sonho que me afasto
Sonho que me mato

Publicidade enevoada
Fica o pensamento inacabado, inquieto de rastos
Como a fotografia dramatizada da minha anorexia apodrecida
E sonho...
Com ela no escuro
Com ela - esqueleto
Com ela, ela, ela
Só ela

terça-feira, 25 de março de 2008

Despreocupações...

O Vítor cumprimentou-me. Estava de fato de treino como habitualmente e numa pressa inexplicada lançou-me um aceno jovial ao longe. Acenei de volta e fiquei parado ao vê-lo correr de chinelos pelo cimento. Sei que a avenida estava repleta, carros atropelavam-se, magoavam-se e a presença de tantas pessoas não era mais do que outra forma de poluição. Em casa estava encurralado. O ambiente tornava-se mais denso e as sensações em desuso; havia um monstro pequenino. Um polvo. Inofensivo completamente mas o mestre da indisposição. Tive que sair do vapor e procurar outro método de induzir realidade no corpo entorpecido. Uma caixa. Ela está toda afectada. Agradece ao seu médico favorito mas isso não resolve nada. Continua com marcas entre o vermelho e o branco a escorrerem pela cara. Agora param, estatificam-se. Não sinto pena dela, é chata com o seu monólogo assistido. Falsa desfigurada, uma transfigurada. Está na caixa mágica habitual que se enquadra. Nem cheguei a ver o monstrinho e na prisão a actuação soa irrealista. O produto de argumentos mal aproveitados. Seria mais fácil se capturassem a voz dela.