sábado, 3 de maio de 2008

O Anjo, o Corcunda e o Biscoito

A luz era fofa. Um candelabro. Parecia a sombra de um coelhinho na sombra.
Dizem que ele gostava de moda, observava as flores a converterem-se em mulheres, as mulheres em lagos, os lagos em pedra. E a sua voz era rouca como vidro lascado.
Hoje era um sábado e havia fumo no ar, denso e prolífico. Lixo liso acomodava-se na mesa, pequenas recordações de uma noite bem passada. Urgia a necessidade de um plano. Gilberto estava atento, tinha acabado neste preciso momento de snifar umas quantas formigas. Já Stefan olhava raivoso num misto de inóspita ternura e infinito para as pernas suculentas mais próximas.
3 gangsters sonhadores sem fortes motivações. No ar, a inexistência do riso. Nos bolsos, armas letais.
De súbito uma necessidade de coçar as pernas atinge o trio. Uma comichão não dura mais que 7,2 segundos. Não nesta mesa. Era uma mesa especial, se é que essa palavra descreve ou alguma vez descreveu acertadamente alguma coisa.
O nervosismo estava colado às fatias na parede sem intenções de fugir em breve.
Suados, sentiam os sinos da salvação a galopar nas bocas salivantes, a cartolina estava bem aberta, havia um destino traçado e o próprio jogo estava em jogo.
Embora as letras estivessem demasiado rabiscadas o plano era bastante simples: Raptar o universo e obrigar todos os mentirosos a confessar.
Curiosamente bem estruturado estava o trabalho. Rimava, as pontas adormeciam certas e até os objectivos menos intencionais tinham a precisão de um xadrez de luxo. Iria resultar. Os 3 amigos unidos pelo desgaste sabiam-no. Cânticos eram proferidos e migalhas eram cuspidas umas para cima das outras. Tudo numa simples curvatura. Era hoje que o benéfico Apocalipse se preparava para emergir. Groselha, vodka, leite. Cada um engolia com ênfase o seu produto.
Estalidos na atmosfera. Voz.

- Olha os meus amigos! Velhos compinchas! Não precisam de agradecer a minha presença! De qualquer maneira, não demoro muito. Hum, noto que ainda mantêm a mesma cara de idiotas do costume! Fenomenal! Bem, só vim recordar-vos das vantagens de ler os pensamentos. É útil, sabem? Dá jeito.
Principalmente para evitar que certos idiotas façam parvoíces ... ou deverei dizer ... idiotices?
Ora, não interessa, esse plano não resultará. Destruí-o com a minha mente. Acabou de acabar. Assim como vocês. Os mesmos idiotas de sempre. O Anjo, o Corcunda e a porra de um Biscoito.
Despeço-me garotas. Beijocas!

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