terça-feira, 6 de maio de 2008

O Mundo e os Seus Pés

Desconhecia-lhe a cara naquele ambiente. Mickey ou Alfredo, seria igual. A escada rolante de visões aligeirava-se como uma brincadeira infantil perante a minha insaciedade. Esse foi um desses dias em que o simpáticos vieram à tona.
Foi no museu, a maior parte do tempo onde conheci os ilustres. Estava lá, por exemplo, o tipo que injecta tinta azulada nas unhas para poupar tempo. Bem agradável o seu esforço. Encontrei na mesma situação mosaica um leiteiro que se intitulava como o Homem-Formiga que Dispara Raios das Entranhas. Claro que não acreditei em nada daquilo. Os leiteiros nunca vão a museus. E pena, mesmo pena que não convidaram o Sol, acho que ele daria um bom equilíbrio à sala. Deve ter ido de férias para algum sítio quente.
Os convidados estavam impecáveis nas suas alugadas vestes. Além disso, devoravam as últimas gotas de champanhe com uma eficácia de cristal.
Já era fim de noite quando reparei que os quadros não eram quadros, a sala não era uma sala e o museu não era bem um museu. As telas estavam vazias e a antes sala agora mini era apenas uma habitação.
Ouvi um aceno gentil do outro lado da plataforma e corri em direcção ao sorriso loiro. Era uma peça que faltava certamente à incoerência do meu dia. Encantadora como uma brisa de Primavera, ela só tinha olhos para mim. E que olhos! Holandeses e subtis! Acho que me apaixonei pelo conhecimento que ela estava prestes a impregnar em mim. E a saia de pestanas também me provocava algo de que não me recordo. Misteriosa, usou os lábios e entregou-me tinta, esfregámo-nos com tinta, sujámo-nos, pintámos, preenchemos com vida e morte o branco apresentado. Agora o museu tinha quadros crus, intensos da paixão excessiva e criatividade repentina de dois pequenos. Eu, que me esqueço das minhas ambivalências e ela, a rapariga da Holanda.
Ela que nunca mais a vi, mas estou certo que ainda hoje anda por aí a controlar o mundo.
O mundo e os seus pés.

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