quinta-feira, 29 de maio de 2008

Drogas Com Sabor a Melancolia

Quero atirar-me contra a parede, percebes, porque eu não sei... é isto.
Apetece-me rir, apetece-me falar em jeito desconexo. Em 3 anos, se tudo der um giro esquisito serei internado. Já estou a ver o casaco de forças. E tudo branco à volta.
Não sei, acho que não sei, apetece-me melancia, sumo, claro, correr um bocado, mas não gosto disso, cereais, sim, talvez, misturo desejos, dominar a Natureza, experimentar vários sentidos, percebes?
O corpo como uma droga, viciado em mim mas nem queria, nem escolhi isto. Viciar-me noutra, também já está feito. Tenho pequenas doses dela. Não me chegam mas finjo que sim.
Queria ser não uma pessoa, ser coisas, acontecimentos, sardas, primeiras vezes.
Ver gatos a dançar, aqui mesmo, agora mesmo para mim o pensamento accionava as próximas acções.
Controlar com uma vontade contraditória.
Um soberano indeciso a mudar tudo, a juntar e a desfazer o puzzle.
Se explodisse não me regenerava, depende muito do impacto e do barulho.
Sim. Interessar-se é difícil, apaixonar-se é complexo.
E neste restinho de dúvida e certeza vou-me aproximando de aproximações de tudo que eu gostaria definitivamente de me aproximar.

Múltiplas Cabeças

No coração do mitológico
Há espadas a arder
Paredes a falar
E cães que ladram baixinho
Para não perturbar
O sono de Cérbero

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Bichos e Gomas

Cansada de homens de sucata e de mulheres belas em inconsciente decomposição, decidiu apaixonar-se por um animal pseudo-intelectual.
Primeiro instinto foi certamente, a aqusição de um lémur já embalado com óculos pretensiosos e talvez até um piercing a cair de lado, tentando renegar as leis da simetria.
Bissexual assumida, seria agora uma trissexual, espécie rara, ou talvez até uma "vai-ao-que-mexe" segundo as noções gerais de peritos aborígenes do Sudoeste Africano.
Balançava a importância de se inserir no meio certo com as hipotéticas vantagens de se tornar numa crítica gastronómica, quando de repente, com a velocidade de uma nuvem frigorífica, o seu maior problema interrompeu-lhe todas as faces do pensamento.
Pelos vistos, todos os seus beijos técnicos culminavam em romances bombásticos.
E embora isso a ajudasse a compreender melhor os segredos da linguagem, há já muito tempo que a História lhe tinha ensinado que nem todas as gomas com açúcar por cima são as mais doces.
Nem mesmo aquelas envoltas em misticismos teatrais.

O Súcubo da Madrugada

Desgaste apaixonado, uma terça feira qualquer suspirava pela porta suja. Truz-truz. Chamavam-lhe o súcubo da madrugada. Vestia-se de Mestre com sandálias altas e era guiado com certeza pelo ondular clássico de um ritmo de uva seca.
Como todos os súcubos, era muito sensível e com ligeiros toques de ambição. Vendia sapatilhas em terceira mão, usava dedos postiços violeta e nos seus duvidosos engates recitava a letra de Master Of Puppets como se fosse uma técnica infalível.
Quando não jogava ténis desejava ser careca e era curiosa a sua respiração: sempre que tomava uma decisão voltava logo atrás. Circunferência do saber, os seus pulsos eram um enigma, dizia-se que os conseguia rodar inteiramente. Lendas que se misturam na imaginação dos credíveis, de parvos que se assustam com bichos.
Aparentemente, não dava para continuar o seu emprego. Raras pessoas se interessavam nas qualificações de um súcubo, por muito admiráveis que fossem. Mesmo assim, alimentado pelo néon, decidiu insistir no seu desejo de perturbar a civilização.
Raptar crianças seria a solução. Mas desta vez não foi só buscá-las à mente, nada disso. Penetrou bem fundo no quarto dos pequenotes da porta ao lado e teve a sorte de encontrar trigémeos. Tinha fingido o procedimento tantas vezes que agora a realização era tremendamente natural.
Executou o plano na perfeição, dedo após dedo, mão no gatilho, pé na almofada, unha na fumarenta faca, deixando que a mutilação o comandasse.
Os hemisférios brigavam em uníssono perante toda a idiotice. No fim, só ficaram as sardas pimponas a tentar equlibrar-se nas feições decepadas. Caras de espanto dos pais pela atitude:
"Que indecência! Nem sequer deixou um recibo!"
Claro que não. Cicatrizes valem mais que papel.

domingo, 18 de maio de 2008

Novelo Oportunista

Desejo ser pecador
Como os anjos, como os santos
Ser um discípulo
Cego ou traidor, infame ou construtivo

Com uma barba e toga parva
Desenharia malefícios num chão sem fundo
Almoçaria curiosidades de mãos sedentas
Arrancaria os braços numa piscina de inteligência artificial

Tudo enquanto esperava por algo mais grandioso
Que ocupasse o meu tempo

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Encontro Moedas De Chocolate Na Carteira

Não estou certo se as árvores estão vivas
Ou se apenas se mexem
(sempre achei isto da Natureza um pouco curioso)
Não me admirava se me dissessem uma coisa ou outra
Desde que fosse bem articulada
(línguas lentas não mais)

Já cansado de indagações
São os dentes dela que me subvertem
Ao embater nas riscas soltando

Estou aqui

E Mais

Inquieta e serena
De nuvens doentes
De figuras
E crises na ala psiquiátrica

A carta que nunca leste
Sobressai uma vez mais

domingo, 11 de maio de 2008

Doenças e Diversões

O que se esconde no tornado invisível
Traições entre copos de cerveja industrial
Fotografias na parede em símbolos
Ar disparado pela janela ensurdecedora
Vilões que regressam à mesa de origem
Jogos de azar quebrados, cartas esvoaçantes alcoolizadas
"Não é certo começar uma guerra por nada"
Moedas e prostitutas
Queimaram o palco há uns anos
Sinais de redenção nos olhos gastos de um barman prestes a algo
A actuação pertence ao padre
O Diabo e o Mar juntaram-se para uns copos
"Senhor, eu mudei"
Artificialismo florido de fogo
Barba de fogo, barba de fogo
Grávido de melodia suprema
O postiço dentro de ti
Rei, o ambiente de um choro comprometido
Hoje não gosto de nada
Preciso de princesas com ambulâncias tatuadas no rosto
"Vem comigo, nunca seremos tão ordinários como hoje"
A vida afecta-me como um fade-out desprovido de início
Quase personagem de uma galáxia penosa
O fumo traz o bafo a liberdade na ponta
"Faltam anões aqui, não combatam a diversidade"
Azeitonas são devoradas por loucos do saber
Apostas em como a chuva se infiltrou
Instrumentos qualificados para aterrorizar as consciências
Uma guitarra sem cordas é só madeira
A louca sabe, espera e mais que imita
A louca apaixona-se facilmente mas não me quer, com um riso largo
A louca morreu naquele bar

Doenças e Diversões II

Sente-te bem para te sentires bem
Deixa-me ler para mim
Não chegamos às cadeiras, ele colocou-as demasiado alto
Serve-te da dor, rejubila
Paredes circulares lavadas no silêncio
Dinamite no soalho, perfeito, refeito
O chão continua sujo e primordial
Convidei alguns escaravelhos sedutores
"As crianças não deveriam desaparecer afogadas"
Espadas na taverna estável, a luta foi ontem
Robusta iluminação, efeitos de magia comprometedora
Partimos a sombra de um padre cego
Há um buraco na esfera desprotegida que guardo
O Diabo e o Sol juntaram-se para um copo
"Senhor, eu pequei"
Ajoelho-me nos degraus de um demónio menor
Preparei-me todo para ele e a sua vingança
A confusão gera palácios
Salas incompreensíveis de suor e pedra
Limites imensos impostos imperdíveis
"Dança nos lábios do vulcão, fá-lo"
Saciada água pura, vamos vomitar só por divertimento
Documentários da altura sem câmaras ou lógica
Batida singular de traços que se perdem
Ácidos no mundo, cores criadoras famintas
"Preciso de uma estrela para brilhar no meu colo antes de adormecer"
É isto, salgados fora do prazo
Álcool sanguíneo lambido dos dedos mortais de simples renegados
Comprei ironia num leilão intimista
Abençoei cruzes sexuais amaldiçoadas
Conferi-me o estatuto de Inverno
Soou o cântico a impressionismo
Sou jardins sem verde
Ressuscitei o fantasma
"Ela ainda gosta de mim"
Inoportuna nos desvarios crónicos
A louca cuspia balas sem pestanejar
A louca está viciada nos segundos, mimada no tempo
Não há tempo
A louca matou-se no lugar

Doenças e Diversões III

Produto destas colaborações excêntricas
Entregaram-me a chave de graça (obrigado por nada)
Vês o interior sem meditar?
Quantas miúdas doentes vês?
Traz-me o medo, vamos
Quero ver, louca, os teus presentes
Cancro, SIDA, sífilis, hemorragias no córtex cerebral
Vamos, é tudo o que sabes fazer?
Divorcia-te da minha infelicidade, alia-te à minha grandeza
O Diabo concorda, sentado lá ao fundo a acenar, concorda
Anda lá, acena de volta
Sempre gostei daquela aura de mistério
Perfumado e sensual
Confunde a sexualidade
O reino do Não Sei
Gostamos mais de falar do que fingir interesse
Promete-me o que não podes
Silencia em mim as tuas feridas certeiras
Tenho-te a ti a martelar, a mentir, a asfixiar
E o Diabo na cabeça
Visionário das emoções incertas (certezas incertas ainda tarde)
O amor perdeu
O chão sujo e moribundo escapa
Gelado desconcentrado e um violino farto de restos
Comia as tuas ruínas se fossem as mesmas
Disciplina para não sentir nada nunca mais
O Grandalhão Negro, príncipe da traição
Eu por um dia
Se fosses de chocolate magoavas igualmente
Louca, despedaçada, quero levar-te a um filme
Derramado e com toques do que não quero mencionar
Enjoo da memória de fundo falso
Não entendo pequenos animais em bicicletas, nem quero
Jogos no parque infantil
Identidade em risco pelas pegadas dela
Uma carta para estas ocasiões
Agonia às colheradas
Doenças e diversões catalogadas
A louca apoderou-se da visão em indícios selvagens
A louca entretém-se com torturas subtis
A louca aproveitou para um suicídio romântico
Dispendioso, ao luar

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Éplicas


- Ultimamente estás frio comigo ...

- É natural, não gosto de ti.

- Não me gozes...

- A sério, não te curto.

- Oh, estás parvo...

- Vai mas é fazer-me o jantar.

- O que é que tu queres?

- Sei lá... algo com massa.

- Está bem.

- E salsichas.

- Ok, pronto.

- E rápido.

- Deves pensar que o mundo gira em teu redor...

- Vai-te foder. E diz-se "gira à tua volta", não "em teu redor". Às vezes não te percebo, pareces estúpida.

- Pareço mas não sou.

- Acredita. És estúpida.

- Pára de dizer isso...

- O quê? A palavra "estúpida" incomoda-te? A realidade atinge-te?

- Já me começas a enervar...

-Estás enervada...essa é boa...estás enervada. E eu? Como achas que me sinto por viver com uma retardada? Diz-me...quando foi a última vez que leste um livro?

- Não venhas com essas tretas... sabes bem que isso tudo da inteligência é muito subrejectivo...

- Muito quê? Muito quê? Desculpa? É que acho que não te ouvi bem...

- Então?! Eu disse que a inteligência é muito subre...

- Lindo! Subrejectiva! Foi isso mesmo! Retiro o que disse! És um génio! Até inventas palavras!

- Olha... dizes mais uma boca dessas e eu zango-me. Zango-me mesmo!

- Ok, ok, acalma-te.

(...)

- Vaca...

- O quê?

- Hey! É apenas um facto! Negas que és uma grande vaca? Negas, negas por acaso?

- Olha, continuas com essas coisas e eu não te perdoo. Eu juro que não te perdoo.

- Puta! É o que tu és! És uma puta! Odeio-te! Como já te disse, acho-te sinceramente estúpida. Só estou a viver contigo porque não me apetece arranjar trabalho, és feia, a decoração aqui é horrível, as cortinas não combinam, não sabes cozinhar, não gosto dos teus pés, ouves música parva do Tibete, não sabes fazer amor, comes tostas mistas sem queijo, apanhas mocas de incenso, és gorda, maquilhada pareces um palhaço, os teus dentes assobiam de forma estranha, exageras nas mini-saias, e deves achar que o William Shakespeare é o melhor marcador da liga inglesa!

- Achas mesmo isso tudo?

- Ah, e odeio a forma como bebes leite directamente do pacote. É nojento.

- Oh, estás a ser estúpido...não sabes o que dizes.

- Ah, mas sei! Claro que sei! Tudo isto é absolutamente verdade! Dogmas, percebes? Estou a lançar-te dogmas!

- Estás muito convencido hoje. Devias descansar um pouco.

- Tu não percebes nada mesmo! Repara...vou sair...e nunca mais me vais ver! Acabámos! Puf! Que tal, ahn? Finalmente! Estou livre, estou livre...posso fazer tudo o que quiser a partir de agora. Tudo. Até nunca!

- Até logo, fecha bem a porta. Ah, e olha...não te esqueças de trazer leite quando vieres.

Um Futuro Sentimental

Em cada 5 dos meus sonhos
Deus é um cigano amador
Praticante de jiu-jitsu rudimentar
Em cada 3 dos meus lugares
Deus é uma pluma duvidosa silencial
Contratada para matar
E em cada 1 dos meus livros de fantasia
O piano dos minutos sobre o pobre poeta do tempo
Fingido
Concebido para destruir

terça-feira, 6 de maio de 2008

Orange and LSD

Here comes the rain again
And fear is by my side
The bright blue sky is turning grey
I'm wearing a disguise

The place I'm in is ocean made
And purple is the queen
All I want and all I see
Just clouded in my dreams

Free...I'm home again
Free.. I'm me again

And I'm just like somebody high
And I'm just like somebody high
And I'm just like somebody high

I'm gonna face another breakdown

Here comes the rain again
It hammers on my soul
The colors die in front of me
A delicious burial

The place I'm in is only time
The hours stand alone
Invisible rainbows over me
Orange and LSD

Free...I'm home again
Free.. I'm me again

And I'm just like somebody high
And I'm just like somebody high
And I'm just like somebody high

I'm gonna face another breakdown

Orange and LSD
Orange and LSD
The sweetest melody

O Mundo e os Seus Pés

Desconhecia-lhe a cara naquele ambiente. Mickey ou Alfredo, seria igual. A escada rolante de visões aligeirava-se como uma brincadeira infantil perante a minha insaciedade. Esse foi um desses dias em que o simpáticos vieram à tona.
Foi no museu, a maior parte do tempo onde conheci os ilustres. Estava lá, por exemplo, o tipo que injecta tinta azulada nas unhas para poupar tempo. Bem agradável o seu esforço. Encontrei na mesma situação mosaica um leiteiro que se intitulava como o Homem-Formiga que Dispara Raios das Entranhas. Claro que não acreditei em nada daquilo. Os leiteiros nunca vão a museus. E pena, mesmo pena que não convidaram o Sol, acho que ele daria um bom equilíbrio à sala. Deve ter ido de férias para algum sítio quente.
Os convidados estavam impecáveis nas suas alugadas vestes. Além disso, devoravam as últimas gotas de champanhe com uma eficácia de cristal.
Já era fim de noite quando reparei que os quadros não eram quadros, a sala não era uma sala e o museu não era bem um museu. As telas estavam vazias e a antes sala agora mini era apenas uma habitação.
Ouvi um aceno gentil do outro lado da plataforma e corri em direcção ao sorriso loiro. Era uma peça que faltava certamente à incoerência do meu dia. Encantadora como uma brisa de Primavera, ela só tinha olhos para mim. E que olhos! Holandeses e subtis! Acho que me apaixonei pelo conhecimento que ela estava prestes a impregnar em mim. E a saia de pestanas também me provocava algo de que não me recordo. Misteriosa, usou os lábios e entregou-me tinta, esfregámo-nos com tinta, sujámo-nos, pintámos, preenchemos com vida e morte o branco apresentado. Agora o museu tinha quadros crus, intensos da paixão excessiva e criatividade repentina de dois pequenos. Eu, que me esqueço das minhas ambivalências e ela, a rapariga da Holanda.
Ela que nunca mais a vi, mas estou certo que ainda hoje anda por aí a controlar o mundo.
O mundo e os seus pés.

domingo, 4 de maio de 2008

Artisticamente Falando

Quero viver nos sonhos da Diamanda
Quero viver nos sonhos da Diamanda
Sentir o baton a escorrer
Pedir-lhe para lamber
Pedir-lhe para lamber
A imaginação para dentro e fora de mim
Para mim e para fora dentro imaginação

Diamandaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

A tua cuspida voz!
Teus demónios de branco!
O teu piano racista!
Tuas lendas em dialecto!
A tua boca encantadora!
Tua brilhante negrura!
A tua pétala venenosa!
Tua aura semi-pura!

Quero viver nos sonhos da Diamanda
Quero sonhar nas vidas da Diamanda
Mais que uma são muitas
Mais que muitas

São uma

sábado, 3 de maio de 2008

O Anjo, o Corcunda e o Biscoito

A luz era fofa. Um candelabro. Parecia a sombra de um coelhinho na sombra.
Dizem que ele gostava de moda, observava as flores a converterem-se em mulheres, as mulheres em lagos, os lagos em pedra. E a sua voz era rouca como vidro lascado.
Hoje era um sábado e havia fumo no ar, denso e prolífico. Lixo liso acomodava-se na mesa, pequenas recordações de uma noite bem passada. Urgia a necessidade de um plano. Gilberto estava atento, tinha acabado neste preciso momento de snifar umas quantas formigas. Já Stefan olhava raivoso num misto de inóspita ternura e infinito para as pernas suculentas mais próximas.
3 gangsters sonhadores sem fortes motivações. No ar, a inexistência do riso. Nos bolsos, armas letais.
De súbito uma necessidade de coçar as pernas atinge o trio. Uma comichão não dura mais que 7,2 segundos. Não nesta mesa. Era uma mesa especial, se é que essa palavra descreve ou alguma vez descreveu acertadamente alguma coisa.
O nervosismo estava colado às fatias na parede sem intenções de fugir em breve.
Suados, sentiam os sinos da salvação a galopar nas bocas salivantes, a cartolina estava bem aberta, havia um destino traçado e o próprio jogo estava em jogo.
Embora as letras estivessem demasiado rabiscadas o plano era bastante simples: Raptar o universo e obrigar todos os mentirosos a confessar.
Curiosamente bem estruturado estava o trabalho. Rimava, as pontas adormeciam certas e até os objectivos menos intencionais tinham a precisão de um xadrez de luxo. Iria resultar. Os 3 amigos unidos pelo desgaste sabiam-no. Cânticos eram proferidos e migalhas eram cuspidas umas para cima das outras. Tudo numa simples curvatura. Era hoje que o benéfico Apocalipse se preparava para emergir. Groselha, vodka, leite. Cada um engolia com ênfase o seu produto.
Estalidos na atmosfera. Voz.

- Olha os meus amigos! Velhos compinchas! Não precisam de agradecer a minha presença! De qualquer maneira, não demoro muito. Hum, noto que ainda mantêm a mesma cara de idiotas do costume! Fenomenal! Bem, só vim recordar-vos das vantagens de ler os pensamentos. É útil, sabem? Dá jeito.
Principalmente para evitar que certos idiotas façam parvoíces ... ou deverei dizer ... idiotices?
Ora, não interessa, esse plano não resultará. Destruí-o com a minha mente. Acabou de acabar. Assim como vocês. Os mesmos idiotas de sempre. O Anjo, o Corcunda e a porra de um Biscoito.
Despeço-me garotas. Beijocas!

Conselho

- Como te podes entusiasmar com vitórias ou dinheiro? Se te queres fascinar realmente com algo fixa alguém que não conheças e imagina-lhe a voz. Quando finalmente a ouvires vais surpreender-te.
Cara e melodia nunca combinam quando brincas com previsões.

O Conto Mais Pequeno Do Mundo

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Era uma vez o conto mais pequeno do mundo.
E viveu feliz para sempre.


Fim





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Como Elogiar Uma Mulher Sem Ser Mal Interpretado

- Estás linda! E isto que acabei de dizer, é, sem enganos, um elogio. Uma simples combinação de palavras forjadas com o único intuito de te fazer sentir bem. Poderia ter escolhido outros adjectivos, é certo, mas a leve palavra linda salienta bem toda a tua magnificência. Lin-da. Duas pequenas sílabas oscilantes, um pêndulo de sonho. Quero que saibas que provocas em mim a força de um demónio apaixonado, és a minha missão, a minha lua, o meu mandamento!
Desculpa-me por estes impulsos, mas não consigo evitar perder-me na sombra da tua elegância.
Despeço-me por agora e aguardo ansiosamente pela próxima vez em que o teu semblante queira partilhar a minha humilde presença.
Até ao próximo piscar de olhos.