segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Alegriador

Hoje choveu pouco no magnânime reflexo da outra janela. Pouco se passa neste meu universo tornado mundo. Perdi tudo o que tinha em simples meses irresponsáveis, mas não era altura de me martirizar com o irreversível, ate porque já passou um ano desde que perdi tudo em meses. Mesmo assim, ainda o sentimento despertava e voltava a latejar. Queria a sua voz a atravessar-me, as suas ideias por completar e fotografias por definir a definir-me cada vez mais. Tivemos um quadro não finalizado por medo e culpa. Medo de me atirar e saborear as extremidades confortáveis do precipício; culpa de me estar a sentir bem demais e não saber lidar com isso. Mais aconteceu. Mais acontece. Novo ano, novas caras, simulações ilusórias do esquecimento. Doses espontâneas e premeditadas de reconstrução corporal. Sim, sou outro. Talvez superior. Devastado e aos pedaços. Acorrentado a pedaços de momentos vivos neste interior confuso. Não é saudade. É vontade de partir o tempo em dois e resgatar o meu eu anterior, lançar-me agora por esse portal delicioso que finalmente sei preencher. São tudo desencontros e insanidade. É isto a vida. Quando tudo está ideal, morre antes de se tornar perfeito. Complicado encontrar drogas celestiais que salvem um pouco de mim. Refugio-me na imaginação que crio. Penso numa iguana laranja tridimensional mas não me serve de nada. Isto não é nada, eu não sou nada, não posso querer ser nada.
Pretensão mata.
"Que estás a fazer?" - perguntou ela, interessada nos fragmentos da minha compulsiva estrutura pessoal.
E tudo começa de novo.

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