domingo, 22 de junho de 2008

Um Sabor Semelhante

E não a segui completamente. Deixei que se abandonasse esta noite com as suas habituais preciosidades. Tenho a certeza que dormirá de forma calma, ordenada.
Começará por se despir lentamente enquanto suspira baixinho uma música que adore.
Estará no ambiente perfeito para soltar melodias da sua boca subtraída.
Colocará uma vela roxa com algum aroma fantástico, talvez o de uma fruta invulgar que ainda não tenha sido inventada.
Vai recostar-se na sua cama recortada e pensará num pequeno resumo do seu dia.
De olhos fechados, a tocar nos seus braços como mera distracção, deixará que o tempo lhe invada o rosto enquanto se lança para outro mundo. Chegou, bela. E a sonhar.

*

Queria modificar a leitura suprema do habitual. Subiria com ela. Agarrar-lhe-ia a mão. Confortava-a, fazia-a ver que só ela interessava na minha estupenda realidade.
Não precisaríamos de falar. Enegrecia-lhe as ideias com um olhar certo, transformando qualquer dúvida em certezas absolutas.
Atirava-me às suas conversas, ligeiramente autistas, recheadas de sons que se perdiam facilmente no seu mundinho interior.
Em vez de simplesmente ouvir, escutava-a, ansiando pelo alcance das suas letras.
E pararia de repente, para a poder descrever mais tarde nos espelhos da minha mente.
Espreito a sua expressão maquilhada, a sua cara de perfeita anoréctica linda perfeita. Sucedem-se impulsos, não era só o seu sabor que detinha, estava a prová-la toda, os seus sorrisos, as suas imperfeições, os seus supremos sentidos, a sua atitude agri-doce.
Tinha captado uma explosão em câmara lenta.
O seu corpo, a sua roupa. A sua cor.
Tudo ao arriscar um pouquinho, ao desafiar as medidas e lançar-me nas cavernas de uma interacção pura. Criei o que não existia.
Os poderes de uma droga semelhante a alusões plenas do passado.

Um comentário:

joaquim disse...

És muito filosófico e poético!
Parabéns
Os teus textos revelam um enorme talento, mostram que tens muita criatividade e originalidade