quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Não Quero

Concentra-te em mim, concentro-me em ti
Acho que preciso de te ver, serpentear pelo teu vestido
Só isso
Não te quero para conversar, não te quero adorar
Entre meras suposições que se fodam idealizações

(alastrei o vício)

Afoga-me em ti
Na língua do sangue
Nos pixéis solares
A pairar
Sempre estou
Sempre posso
Encostar sorrisos
Sombrios insistentes
Na incisão convulsa
No ombro esquerdo, subjugado
Dominante
Do ódio

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Paisagens sonoras

Deito-me na relva suja sucessivamente beijada pelo sol
É de dia de novo e os outros dias começam a desaparecer agora que me lembro deste nascimento forçado
Reconheço-me longínquo no espelho
Apreendo tudo pela segunda vez
Ou será terceira?
Está tudo escuro

Nova fase da lua, transformação do planeta...
Quero converter a lua em queijo, ela será o meu banquete...

De onde vêm estes pensamentos?
Não param...
Movem-se pelo chão de cristal axadrezado, escondem o êxtase devagar
Formam uma dança sensual apoteótica
Sem cara
Arrastando um manto fulcral
Degradando um anjo
Sorrível anjo cuspindo feitiços inaudíveis num dialecto próximo
Uma voz. Uma voz incessante que não posso bloquear. Que não quero controlar
Suspira-me ao pescoço letras que se concretizam, que é isto?
Serei um super-herói ofuscado por poderes que nunca tive?
Opto por não me afogar nessas conspirações, não me parecem certas, tenho que renegá-las
Entro simplesmente em vulgares traços e formulo o que se esconde nos restantes escombros da minha agora enevoada mente
Não será má ideia espreitar os jardins devastados das minhas recordações

Para já memorizo os pássaros que não sabem calcular as distâncias entre os voos
Entoo os refrões de músicas sem versos
Procuro o que sinto que não existe
Não existe
Não existe
Não...
Existo...

Que sítio invulgar

Onde estou?
Parado entre espaço e tempo ?
Ou apenas por aí...
Em paisagens sonoras?

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És o sumo de borboleta frágil que quero engolir deliciosamente.
Lágrima por lágrima. Vou-te encontrar.
Fios fora do sensacional, amiga de relâmpagos. Adivinho-te uma voz angelical, irritante.
Libertaste-te da vitrine da loja de brinquedos. Peluche feminino. Organizada. Demasiado. Sapatilhas imaculadas, casaco cauteloso, mochila semi-aberta. Sinto o arco-íris a percorrer-te o corpo recheado, ganga deslizante, tecido em formas verdes, já sabia:
Por dentro és cor de rosa às riscas decifradas.
Crime de avelãs, sei que foste tu, juntaste à expressão uma inocência premeditada.
Decorada conhecedora, espantaste com brilhos e pequenas estrelinhas.
Quero ver-te a sorrir, nesse teu ambiente metalizado caramelizado, nessa boca artilhada, rigorosamente apetecível. Pode ser que nos sonhos dos teus beijos me abstraia dessa cicatriz profunda, amorosa. Exacto. Algumas raparigas não deviam brincar com facas.